sexta-feira, 25 de abril de 2008

Alvorecer de Maio


*


Vem cá minha menina, não me olhe desse jeito
será que não percebes que já amanheceu?

Todas as estrelas, rumaram em cortejo
o que era morte, foi na noite
e o que era negro, já morreu.

Senta-te, não chore, deixa cá eu te ninar
não cabe acalanto se não puderes sonhar
não diga que és tola ou que o passado te envenena
é claro e lá fora já é outro rio a cantar.

( será que não ouves?)

Dá-me tuas mãos de branca seda.
Dá-me teu olhar, calado assim,
que me contém

Que todos os teus medos são tão meus
- são tão meus! -
Que essa brisa rouca
não os leva quando vem.

E quando anoitecer
que só reste teu perfume
neste campo, neste sonho
e na voz deste cantor

De nada vale a vida sem a lágrima perdida
que ao molhar teu véu insiste
em desnudar tua antiga dor

Sabe lá quantas das águas
nesse rio que há muito existe
são choros de antigas
dores e mortes invisíveis?


( Enlacemos nossas mãos, não fiques assim tão triste)





(Jessiely Soares)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A Noite da Bailarina

*



Foi-se a vida
Ou foram-se as asas
Do eterno vôo da bailarina?

Dança o último sorriso
Na face rosa de menina
Flor que morre em acalanto
No escurecer dessa neblina

Canta o último versinho
Minha terna bailarina
Que a noite ainda adormece
E antes da primeira estrela

Faz o último Plié
Nessa atmosfera
Morta
Coloridas em plumas vivas

E parte, meu bem,
Parte
Entre aplausos que te esquecem
De quem teima em ficar
Nesse teatro em que tu brincas

Voas alto em teus sonhos:
Tens o palco dos ares
Para o Ballet da despedida.


(Jessiely Soares)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Das eternas mortes III



*

Antes que acabem
as rendas brancas da lua
e o grito da noite,
o último medo rasgará o vento.

Enquanto quatro mãos costuram,
placidamente,
estrelas nos pés de Deus,
o horizonte imerge
numa última sonata...

Antes do nascer
do dia,
na vermelha morte da madrugada

Haverá fogo nos teus olhos
e nas duas vidas
que habitam em ti,
desesperadas por amanhecer

Uma não irá morrer.
A outra,
sim.


(Jessiely)

domingo, 13 de abril de 2008

Das eternas mortes II


Pode um canto triste
moldado entre folhas
pousar no meu luar?

Um dia, era manhã
quando tu 'inda cantava
e eu ainda estava lá

Sangrou a última pedra
passou o último dia
Tingiu tudo a escuridão...

E tu cerrastes
meu futuro
como versos escondidos
entre o risco
e a imensidão.

Canta agora,
meu destino
canta o canto mais doído
da velha morte que partiu

No clarear da solidão
foi-se tudo, foi-se a lua,
nos deixamos feito chuva
na última curva do rio.


(Jessiely)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Das eternas mortes



*

Flores na brisa
cheiro de Maio
Dois versos cinzas
em breve contato

- Voa o amor por todos os lados.

Branco de dunas
ruas de Abril
noites de chuva
dia vazio

- Voa amor, aqui tudo é frio

Doces desejos
é breve, é claro
Canta o leito
que guarda o amado

- Voa amor, não fica guardado

Não morre entre cantos
de amor encantado.

Declaração de amor pelo batismo na cidade antiga"






*

Não, eu não sou pernambucana
nascida

Mas meus anseios crescidos na Paraíba
me deixaram tal qual Ariano:

"Paraíba é colo, recanto
mas Pernambuco
me veste de vida."

Nos olhos, do meu Recife
(assim, me apropriando)
vi o arrebol de sonhos
na noite que morre calma

Fui Marco Zero de bêbados
cantando vinhos e dores
quando a musa brilhava alta.

E surgindo, imersa em luz,
tingindo tudo que existe.
Eu, batizada por fina chuva,
namorava o capibaribe

(Com minha visão bordada
na cidade em que não reside)

"- Oh, Pernambuco que amo!
Oh,
___Recife,
______linda!"

Rasga-me a alma, confesso:

"Adota-me, pois não,
não sou pernambucana nascida
Mas é por te amar, que te verso!"


(Jessiely Soares)


Foto: Felipe Ferreira - http://www.flickr.com/photos/ff_fotografia/2327802800/sizes/l/

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Bordando medos


Agarrado no vento
Foi-se o teu rosto pra longe

Onde mora o absurdo

Naqueles dias
Os rios cantaram

- É primavera
Ao redor do mundo!

Mas eis que em mim
O frio dançava
Feito de orvalho e pedra

Entre o horizonte e o mar
Teu amor era a última morte
Anunciada

Onde viver seria algo eterno

Não me atrevi a ir além dessa dor
Virei sereno.
Fingi-me inverno

(Jessiely Soares)

Bordando sonhos


E foram-se luas e flores
Até o tempo desabar,
Quase na palma da mão.

Foram-se doze primaveras
As mais lindas bailarinas
E algumas mortes, esquecidas
Dias, sim
Dias, não.

No doce último sorriso
Bordado de improviso
Naquele último luar

Éramos sonhos como medo
Enquanto as luas escolhidas
Brincavam de voar.