sexta-feira, 15 de maio de 2009

Como se Ariadne fosse


Você que desenha cada passo
no labirinto...

e que guarda com cuidado
meus panos de medo sob seu chapéu

faça-me ouvir por todos os meus dias
o seu sorriso místico.

Nada mudou
no além
da nossa janela:

Seu mundo ainda desafia distâncias
para pendurar
prateados fios de sono

na manhã da minha aquarela.

Por zelo.
Pois sabe que eu quase não durmo.

Trago comigo os destroços de quando
dei-me a idolatrar o vento, a água,
o céu e o risco.

Esse fato, também o sabe:

Você, Mohandas. Pacifista.
Eu, Guevara, de bom grado,
seria de alguma força-combate

em alguma revolta ativista

Seus dedos desenham noites.
E tantas vezes,
fizeram-se em arabesco,
para acalmar
todas as minhas cicatrizes.

Seu amanhecer tem sido minha bandeira
atrás da linha do medo,
onde me sinto mais segura.

Tenho receio da sua partida.
Receio inconfessável.

Eu, finjo que não vejo;

Mas sei da tua silenciosa batalha
num labirinto sem linha

Num lugar asfáltico,
sem deuses, minotauro,
Olimpo ou ninfas.

Atravessando o deserto sozinho,

Apenas
Para unir

- sem mais infortúnio e sem as garras do destino -

essa vida, ateniense, em pacífica calmaria,
sua,

por ocasião da eternidade,

a esta, espaçosa e barulhenta,
de revoltas televisivas e de guerra, em intensa atividade

espartana, minha.



(Jessiely Soares)

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