sábado, 22 de agosto de 2009

Pedaços





"Minha vida não cabe nos trilhos de um bonde"
(Caio F.)



É, há noites em que o sereno invade a sala de estar, mesmo com as janelas fechadas.
Não sei o que há, Baby. Minhas asas andam descolorindo.
Não tenho gosto por cigarros, porém, se eu gostasse, poderia criar uma nuvem venenosa e me afogar em um ritual.
Mas eu realmente não fumo. Tenho gosto por tulipas.
Tulipas não vivem onde mora ausência. Minha sala anda recheada de saudades velozes.
Contudo, certamente não sei se a ausência é apenas de você, sabe? Por entre as pedras soltas, eu acabei descobrindo que ando sumida.
Será que foi o vento de Julho?
Dia desses achei um poema, debaixo de uns livros velhos. Perdi o Leminski que estava lendo, mas guardei a poesia. Desde essa hora em que o achei, pareceu-me que eu sumia. No começo achei que era viagem... Mas agora vejo que me ausentei. Em lapsos, tempos em tempos, percebo que sua bagagem seguindo ao seu lado, de ida demorada, levou-me um pedaço.
E, a continuar nesse episódio, sua conexão via celular, me arrancou mais alguns estilhaços.
A julgar daí, todos os momentos, foi como se eu estivesse me desmontando, periodicamente, e alcançando seu gesto de alguma forma: Ora pelos remansos dos rios do Recife, ora pelos pingos de chuva.
A vida é mesmo um desmoronamento progressivo. Eu fui ficando metade, fatia, pó...
E no último dia, antes de vir embora, não percebi ( e nem você ) que eu ficava, completamente carcaça, dentro daquele ônibus interestadual.
(Jessiely Soares) 
Imagem: Google.

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