sábado, 31 de outubro de 2009

Deserto de olhos


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Há muito não chove.

Pregado no lodo que sequer existe
está meu aprendizado sobre a vida:

Uma lágrima solidificada,
uma mão calcária,
uma fagulha,

umas coisas miúdas,
um álbum de fotografias,

algumas rachaduras mortas,
estraçalhadas de ar.

Uns sorrisos que vovô me dava
balançando na sala
numa cadeira com panos.

Alguma frase para ser
o arremate dos poéticos enganos
e essa vida, por demais vazia

Tudo nas cicatrizes que larguei
para o vento fragmentar.

Já que esse lodo, que sequer existe
tem alguma coisa que eu ainda queria:

olhos de açude rachados de seca,
ruínas de mares, e essas manhãs em que eu não mais me chamo.

Sutis mortes que ainda me deixarão
fóssil,
cinzas
ou poesia.




(Jessiely Soares)

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