sábado, 14 de novembro de 2009

Diários da distâncias IV

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Hoje eu estive um dia inteiro só.
Pode-se reconhecer a solidão muito facilmente: Todos os ecos do mundo respondem em apenas sua voz, as paredes são espelhos de um ocaso e há, normalmente, músicas a rolar no ambiente. Ambiente esse que certamente estará mudo.

Nenhum homem deveria estar sozinho sem querer estar. Nem mesmo Baudelaire.
Ele, que concebeu a solidão como virtude, deve, em algum momento da vida, ter sentido essa dor lascinante de que lhe faltava teto e chão.

Solidão é estar presa à janela: a mão em concha, a esperar sereno para companhia, debaixo de um o céu vertendo azul.
O corpo, silenciosamente deitado, buscando sonhos; o sono escondido debaixo do travesseiro.
Nada, nada, completamente nada pela casa. Um cais vazio, barcos largados pelo mundo, garrafas em busca de destinatário.

Telefone mudo.
Porta-retratos mudos.
Meia luz na sala muda.
Um milhão gritos surdos enterrados no peito.

Nenhum homem deveria estar só por obrigação. Sem vinho e nem poesia.
Nenhuma mulher deveria estar sozinha no meio de um sábado de Sol, com esse gosto de musgo grudado nos olhos.
Nem mesmo eu.



(Jessiely Soares)

1 comentários:

Thais disse...

Lindo...
Nem mesmo eu.