segunda-feira, 13 de setembro de 2010

História




Não fui feita para grandes saudades.


Fui parida para
me adequar às dores
como ponto de partida.

Vez em quando
o moço vem e me rouba a poesia.

Onde eu estou com a cabeça
quando me deixo apaixonar?

Em dias como hoje
só cabe o domingo na janela:

Minha mãe a partir distâncias entre minha casa e a dela.
Meu pai não sei por onde,
meus avós pelo chão,
meus tios, mundo.
Primos? Nem sei.

O pensamento cabe no vão.
A filha cabe na sala
e diz pequenos sorrisos.

A casa inteira principia
uma despedida da tarde.
É hora de vestir agasalhos
e de acordar os travesseiros...

Bem vindo ao lar,
pardal que mora na árvore vizinha!

Minha árvore genealógica
tem tantas lacunas
que há várias gerações não sei
para qual ninho voltar.





(...)

Imagem: J. Vieira

Jessiely Soares

3 comentários:

Ricardo Fabião disse...

Genial, Jessiely.

terminada a amamentação, permaneceremos sem ninho até o ponto em que se diz fim.
Nós mesmos tomaremos essa estrada no primeiro ano, linha que só tem distância indo.
Lá na frente haverá dias em que olharemos para trás e nada veremos de nós somos. Isso aos que sentem corresponde à mais profunda dor - sermos sozinhos.
Então mais chão teremos até que tudo reinicie.

Desci contigo às dúvidas de existir, e calo de aflição. Felizmente há tua poesia como cobertor.

Beijos.
Ricardo

(ando com mais mestrado que vida, por isso a falta de tempo)

Aarão Barreto, o Único disse...

Olá, boa noite! Tenho um blog onde escrevo alguns pequenos contos, crônicas, poesias e críticas. Além de relatos da minha vida nos velhos tempos - aqueles que não voltam mais! Sou meio novo nessa coisa de blog e gostaria de compartilhar o que escrevo tbm. Vou ficar sempre vindo por aqui para ver o que acontece nesse ramo, que não é bem o meu (sou médico) mas que faço de coração.

Abraços!

Ábia disse...

Nada como a poesia pra preencher os vagos que de acordo com a vida agente lida. Sorte sua ter palavras. Doído mais seria se elas lhe fugissem: seria como andar sem rumo, escalar essa arvore onde faltam galhos e cair sempre antes de chegar ao meio. É bom que elas lhe venham: tens bom jeito pra colocar... dispo-las, com suave farfalhar de vento que mesmo que fale 'dor' diga 'amor'.
encantaste-me.