sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Segredos






*



O rio sussurra
Durante a passagem
Silêncios inabitáveis


Só aquela flor
Desbotada,
embalde
Conhece os mistérios

Que
vão, vão.

Em sua eterna
susceptibilidade


As águas mansinhas
E turvas
Oriundas de tantas
fúrias
Não conversam
Com o mundo
Em meio à escuridão.


Apenas aquele resquício de vida
Minúscula e descolorida
Contém os amores
E as esperanças perdidas
Que o rio sussurrou


- Dos trigais a deitar
Com a força do vento
Dos moinhos
Dos filhos
Dos mananciais
E o choro de Deus
Que serenou tantos cais -


Descalça
naquelas
águas
Nada ouço: o segredo emudeceu.


Que seja!


O que passa
Guarda um silêncio
fadado àquela
flor que o vento enleia e que não saberá
nada além que seu próprio passado.

Eu
Fico às margens

Sem compreender
O ciciar
Do rio


Mas posso esperar
Meu futuro
De olhos fechados.



(Jessiely)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Monstros


Caminhe devagar pela casa
do meu peito para não acordar
os monstros que espreitam
e tentam me assustar


Dizendo que o seu olhar
partiu e que não vai voltar.


Cuidado !
Meu teto é antiga construção
arquitetada por loucos em fuga
do meu coração,


Pise vagarosamente
não faça barulho
não ceda à tentação,


Mas, deixe ao léu com raiva perturbadora
cada pedaço de mim
que se deixou consumir por você,


Prossiga!
porque a estrada é nua
e seus passos certeiros
traçam o percurso que só você poderá construir
ou perecer,


Meu rumo está devastado!
Seus passos perdem-se aqui,


Mas, ao menos sussurre que me ama,
e não me deixe dormir.


(Jessiely)

domingo, 25 de novembro de 2007

Maré Cheia


Na noite
em que tua voz cintilou
por entre tantas outras vozes
senti
os fogos de artifícios
explodirem na tua pupila.


Tornei-me astro
em teu sistema
num ponto qualquer
que me refletia.


Na velocidade
do pulsar das minhas veias
percorri teus pensamentos
e por alguns breves momentos
me senti completa,
plena,


-como onda voraz
que se eleva
na fúria da maré cheia-
E me lancei
na incerteza de ser flor
ou teorema.

No barulho das sandálias descalças
pelas poças d´água
depois do avanço do mar

Dos respingos
de brisa salgada
que paralisava a vida
em contato com o ar


Fui brisa
ou vento alísio
feliz por ser quem sou

Assanhei teu cabelo
roubei um pouco do teu cheiro
e meu cais serenou.




(Jessiely)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Te guardo aqui



Parada
Não sou areia
Nem ventania
Sou como onda
Já rebenta
Em teu olhar

Paraíso?
A inércia
Dos minutos ritmados
Com o bailar
Dos teus cabelos
Vento manso
Espuma branca
Mar bravio
Ainda trago
Tuas marcas
Em meu espelho.

Sabe-se lá
quantos
monstros
marinhos
perderam-se
Nas vagas
Que insistimos
Em atravessar.

Terra firme
Não tão firme
Quanto tua voz
escondida
Sob seixos,
Sob relva
respingos
salgados
Que se misturam
Ao vinho
No silêncio
________[da espera].

Minha voz
perdida
Na tua
Onde o mar
De ambos os lados
Chora e lança-se
Entoando cânticos
As deusas nuas
Porém tristes

- eu canto
apenas
Para agradecer
Que tu existes-

Dorme em seu leito
Vis tesouros
naufragados
De tantos navios
Que passaram
E eu não vi.
Na terra firme
Vive meu anjo
barroco
De tão
embriagado
Em seu vinho
barato
Nem desconfia
Que o observo
A dormir.

Enquanto
As sereias nuas
enfeitiçam
Os canoeiros
Eu te guardo
Aqui.



(Jessiely)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Tela de Monet


Sinto
Quando te olho
Que somos
Tal qual
Uma tela
De Monet.

De perto
Somos pingos
E respingos
Misturados.
matizes
embriagados
Tornando o concreto
(des)concreto

De longe
Se nos olharmos
veremos
Que somos
desenho
Que o destino
pintou
Certo.

Uma bela tarde de Sol
Uma ponte que cruza o jardim
Um canteiro
Rasgado a um canto*

Teu sorriso
Cheirando a Carmim
perdido
Entre flores
machadas
Minhas mãos que
Desenham tuas mãos
Brincando com
A sombra das calçadas
Tudo isso passaria
fugaz
Se não fôssemos
pintura
arraigada

Sim,
Tenho ainda mais
certeza
Somos tela nova
Ainda escorrendo
A tinta molhada
Somos mais que desenho perfeito
Somos pingos
pingados
No peito
De algum artista
bêbado
Da madrugada.

(Jessiely)

Immortale


Enquanto as horas
desenrolam-se
Em sua teia brilhante
De cadeias
seqüenciais

Eu raciocino.

Calada
Produzo pensamentos
Escandalosamente altos
Que projetam ao
Meu corpo
Todos os sons inaudíveis
Do teu olhar:

Inaudíveis para os outros
- pobres mortais-
Que não conheceram
Um amor
Como esse
immortale

Indelével
Não perece
Nem sob a mais
Torrencial chuva
Ou o mais
Inebriante Sol
E ainda assim
Não deixa de ser singelo
Como uma mariposa
Ou como Libélula,
Ou ainda como Alga marinha
(ou ainda como a luz salpicada
Sob o arrebol).

Nem
Deixa de ser sutil
Como quem ama no escuro
E se satisfaz
Com os próprios segredos
Com as próprias juras
-Indescritível
Mundo-

(Os sons produzidos
calam-se
Não está exposto
A ninguém
Seu respirar
Noturno.)

E eis que caminho
desenhando
Tudo isso
Nos riscos
bagunçados
Das nuvens passageiras
Enquanto perdem-se
As horas
Em desacordo comigo

Queria o tempo
parado
O caminho
parado
O vento,
Esse atrevido,
Passando devagarzinho

E esse Céu
Que cismou em me ouvir
pensando
E conspirou
Com meus cabelos
Para me
desconcentrar

Perdeu seu tempo
Entre os meus fios embaraçados
Que esvoaçam,
Esvoaçam,

Sempre
Existirão teus dedos
Que os prendem
suavemente
Enquanto tua boca
Feita de mil desejos
E que contêm todos os
segredos
me
desvenda(rá)

E sempre
Terá esse ruído
Mudo
De horas
imortais
Que insistem
Em
Recomeçar.
(Jessiely)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Planar





Vejo-me
criança
E isso faz bem
Literalmente.

Finjo-me
bailarina
Com as mesmas
sapatilhas
Sentada ao lado
De um rio
- nascente -

Nascemos
Ora eu
Ora ele
Num afagar
de
ondulações

Desenho borboletas
Com asas
negras
E a alma
rosa
De leves paixões.

Não
Nem de longe
Sou a mesma
infante
Da qual me perdi

Sentada no
remanso
Sou apenas
Vestígio,
Estrela desastrada
Que caiu
Aqui

Desejo
Que se fez bendito
No passo
Solto e leve
Que me fez pairar

Agora
Sou corpo
inerte
que
Carrega o peso
De não
Saber planar.


(Jessiely)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Girassol no meu olhar



Ninguém avisou
Que os segundos
Magoam o peito
Que antes eu
Julgava indolor.

Ninguém
explicou
Que o girassol
Em meus olhos
chora
E cada lágrima
derramada
Carrega um pouco
Da sua cor

Mas eu descobri

Meu rosto manchado
De certo matiz
Marrom amarelado
Carrega a dor
Solene da saudade

E essa brisa
indomável
Que carrega a chuva
Afaga os meus cabelos
Traz gotas
De orvalho:
Pura maldade.

Me deixam
calada
Com canções imaginárias
Pedaços de solidão
Numa terça feira
À tarde.


(Jessiely)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Entre as mãos


Vejo a borboleta
Que perdeu o rumo
Entre as promessas
(des)feitas.

Resignada
Ao fim
Em idade tão tenra
Ela ainda
Oferece à vida
A cor intacta
Da alma.

Vã oferenda

A vida detém as cores
E almas
furtivas
Tão ou mais coloridas
Que a dela, sutil
E já desfeita.

Só não tem
O detalhe
infinito
Da paisagem
Que desenhaste
No foco
Do meu olhar

Nas mesmas ondas
Que todo mundo

Que beija a areia
E apaga os beijos
Ao retornar

Tu d(escreves)tes
Um caminho
traçado
contínuo
Ao segurar minha mão

Nossos passos
Não ficaram
Mas a vida
Tingiu meus pés
Despitou segredos
Confessou sua razão.

O amor deixa suas cores
A vida se esvai
Mas as marcas que o mar
Não carrega
A brisa traz
escondida
Entre as mãos.



(Jessiely)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Anjo crescido


Um Anjo crescido
Acrescido de asas
Sentou-se a beira da minha cama,
E me falou, sobressaltado:

- Levanta que já é madrugada,
Dissipa-se o orvalho!

Eu, incrédula
Observei seus olhos
Amendoadamente cor- de- mel
E perguntei entusiasmada
Se ele caíra do Céu.

Mas ao invés de falar
Ele sorriu, gentilmente,
E mirou ofegante
A janela distante
Do meu aposento dormente.

- Levanta, já é madrugada!
Dissipa-se o orvalho!
Mira que lá fora ao léu
Aguarda-te o amado.
Ansioso por tê-la,
E caminhar ao teu lado.

Assim sussurrando
Um tanto mais calmo
Arrebatou-se o Anjo
Do meu prédio ao alto.
Deixou-me sentada
Com o meu melhor sorriso,
Respirando calor,
Sussurrando e sentindo:

“- Estou indo meu amor
Antes que o orvalho dissipe
Orvalha meu corpo
Contigo.”

E sem asas, parti,
Pelos teus caminhos notívagos.



(Jessiely)

Véu de estrelas


Durante a noite
Preso no firmamento
Um véu de brancas estrelas
Desenha teu rosto.

Eu, inanimada
Apenas imagino
Se no teu infinito
(re)desenhas meu corpo.

No que penso
Defino
Entre tantas invenções

Um encontro
Um destino
(segundas) intenções

E fico
Sagradamente deitada
Sob o céu de antigos
Sonhos estelares

E se miras
Meu rosto
Do teu trono
Sobreposto
Sobre os anos-luz universais

Verás que sou pedaço
De tua constelação
Estrela
Que te alimenta de luz

Nada mais.




(Jessiely)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Teus Olhos Castanhos


O dia está seco


O Sol quase mata quem atravessa o leito seco do rio.
(caminha-se por toda a extensão rachada e marrom-acinzentada do que antes fora um límpido rio azul).

Os transeuntes apressam o passo.

Param debaixo dos Umbuzeiros como se quisessem retomar as forças para persistir na caminhada.
Recorrem às sombrinhas.
Algumas senhoras abanam as saias, na esperança que algum vento atrevido diminua-lhes o calor.

E necessitam. O calor está de matar, lá fora.

Eu aqui vejo tudo pela janela, debruçada sobre uma brisa que vem não sei de onde.

Porém, se teus olhos castanhos me fitassem e me pedissem para ficar alheio a tudo e te admirar na calçada.

Eu ficaria sob o Sol a pino.

Teria frio hoje.

(Jessiely)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Imaginando





E se não houvesse os caminhos,
Onde perco o que procuro?

E se não houvesse a mentira,
A dor, o absurdo?

E se não existisse o porém,
O por quê, o inexplicável?

Ou a dor que me persegue?
Ou o medo do acaso?
Ou a tristeza... A solidão?

E se não houvesse a saudade?
Que machuca, dilacera.

E se não houvesse a fome,
Naquela maldita viela?

E se eu não pudesse reinventar-me,
Ter ilusão?

E se não houvesse isso tudo...
Para que serviria a minha imaginação?

(Jessiely)

Canção.


Canção.



O caminho imperfeito
Eu sigo calada
-por fora, ao menos-.

Por dentro do peito
A canção se repete
desbravando
as
ladeiras

No meu corpo inerte.

E canto tão alto
Que a canção ressoa
Por olhos, ouvidos.
Na pele, na boca.
Usurpando os sentidos
Da tarde cabocla.

Mas, ninguém me ouve.
Se grito calada.
Se o que me cadencia,
É tua batucada,
Que dentro de mim
Acomoda, se espalha.

Tua voz ressoa, menino!
Devasta.
Teu canto no brilho
Do olhar
Fascinou.

Faço-me ouvinte,
Cantante,
d
e
s
g
o
v
e
r
n
a
d
a.

Por dentro deliro
Os meus descaminhos
Tua mão ritmou.

(De tanta voz tua
E tanto gesto teu
E tão meu,
No fim.)

Nossa canção,
Perfeita de gestos
De alguns traços sérios
Roubados por mim

Me en (cantou).



(Jessiely)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Louca e Pura





Lua
Na amplidão
observando-me
solitária
Esquecida,

redonda
pálida
nua

Não creia que sou
inocente
Ou que não conheço
Meu lado (obscuro)
Também tenho fases
- estou na rua -

Sei que sigo.
sozinha
Essa estrada

Saiba, conheço
Tua forma de
zombar
disfarçada

Finge que esconde segredos:

(- Não sei
Onde esta meu amor
Não me conte
Mais dissabor
Tenho medo.)

Vou seguindo;
A noite é clara,
A estrada fechada,
Iluminada por vaga-lumes.

Quero os braços
De quem amo
Para que não
Cesse o encanto
Nem a solidão
Se acostume.

Refaço a rota
Volto ao quarto
No reencontro
- sou louca
E pura -

Fecho as janelas
Não deixo frestas
Para a Luz

E os nossos
Corpos nus
Tu não verás

Lua.


(Jessiely)

Inerte


Pendurada na corda bamba
dos meus sonhos,
desafio a gravidade,
inerte e imune
à realidade.

Trago teu silêncio
persistente
para meu quarto.

Madrugada nas cortinas,
despida Lua
E teu retrato
orvalhando
pela cidade.

Pobre de mim
que lancei
meus desvarios
sob o nada
e perdi
minhas razões
em certezas absurdas.

Pobre desses sonhos
tão mutantes,
metamorfoses
lancinantes,
mãos fecundas.

- há sempre uma
tristeza
nessa sala
que me inunda -

Nesses momentos
de insensatez profunda,
sou menina.

E apenas
o teu olhar
castanho
me alucina.


( Jessiely)

Surya





O Sol
Que alimenta
Seu corpo
Nas madrugadas
Sem vida

Nasce em meu ventre
E te guia
De encontro ao céu:
Raios de Surya

O corpo que banho
A luz
Que a clara manhã
tece

É o mesmo
Que na noite
Foi teu
E o calor
Que se entrega,
entorpece

Ah, noites!
Nas quais te beijo
E renasço
-Entre prazer
E espelhos-

E que no fogo
No breu
Explosões...
Sol do escuro


Te aqueço.


(Jessiely)



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quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Perfume de Mulher




Meu coração
Às vezes é janela
Às vezes, gaiola...

E me deixa sempre assim
Meio amparada,
Meio só.

Meu sentimento
Não tem regra:
magoa,
chora.

Noite fria
Me reclamo
Mas, não sei
Se me zango
Ou se me tenho
Dó.

(teu amor)
Ah, nem sei,
Tenho medo
(De ser só)

Meu passarinho
Não te prendo,
Nem te privo...

Repara bem
Se não sou
Ilusão de ótica
E sem me quer.

Não tenho
Tantos atributos
Quanto a Rosa
Mas, não
Me ressinto.

Prefiro ser
Girassol...
Com perfume de mulher.

Meu coração
É meio janela,
Meio gaiola

estarás
preso
A mim
se
Quiseres



(Jessiely)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Maracatu


*




O Corpo corresponde
Aos apelos do som
Que me impõe
A cidade antiga

Os braços flutuam
Entre o Céu e a rua,
Entre a torre e o mar,
Entre o vinho e a Lua.

A ciranda que tece
O bailar ritmado.
Os pés que batem
Com força no chão

Um barco que aporta,
Um farol que ilumina,
A escada sem fim,
Que descortina a imensidão.

E o vinho
Que despertou as lágrimas
E te sorveu para o meu coração.

A Rua da Moeda,
As nuvens carregadas,
E a chuva
Que cismou em não cair.

Agora
Ouço
Maracatu
Longe
De ti.

(Amélia Jessiely Soares)

Cidade entardecida.




Qual lua desperta,
Estive em teus braços
No parapeito da janela, dispersa,
Cuja vista despencava
Numa queda sem fim
Dentro da cidade entardecida.

Os ritmos que
Transpiravam a alma
Faziam-me repensar
As certezas sobre a vida.

Na escada em caracol,
Pela torre mais alta,
Onde antes homens lutavam
Por sua terra,
Honra,
Vida.

- estive
Há poucos passos
De Deus,
Até pude sentir
Sua brisa -

E o sonho encerrou
Apenas por hora.

Com o vinho,
O beijo, a ciranda.
O Marco Zero.

E seguimos
Entre sorrisos e tropeços
A Conde de Boa Vista,
Observando olhares alheios

Deixando pelo caminho
O cheiro do mar,
O poeta na estátua antiga,
Os rastros da nossa história
Nas pontes
Sobre o rio
Sem vida

- mãos dadas
Pela cidade
Antiga -



(Jessiely)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Proletaríssimo


Não quero ser
Pedaços de sonhos:
pesadelos
É que me dilaceram.

Sou apenas
Um sentido oculto,
De um segredo
Que me disseram.

Um ser antigo,
Não na pele,
Essa mera e
Mórbida camada
Que me reveste;

Sou antiga
Em sentido amplo
-Meu espírito não
Foi domesticado
Ainda é silvestre-

(sou sentimento mútuo
Em tempo de amor agreste)

Sou desejo incontido
Em toques
Desses, daqueles,
Aos quais não posso tocar.

E às vezes,
Faço-me orvalho
Pra finalmente
Me dispersar.

E nas madrugadas
Revitalizo-me
Ser da noite
de olhar tranqüilo...

Amanhece
e
recomeço;


Proletaríssimo!

(Jessiely)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Desejo Inútil




Fiz-me céu
porque sempre
- sutilmente -
Vejo-me em tua praia

quando ao fim de tarde
senta-te na areia
e miras o mar

Fiz-me pássaro
porque sobrevôo teus pensamentos
-intermináveis
contratempos-
nos quais anseio ajudar
mas posso, tão somente
olhar.

Fiz-me caminho
Fiz-me teus passos
Teu desatino
e teu cansaço.

Mas nunca
Desejo inútil
entre teus braços.



(Jessiely Soares )

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Desacelerado


Teu rosto é um vale
Onde escondes teu sorriso
Que me inundou a alma.
Ah, Alma!

Essa que se perde da matéria
Enquanto durmo
E volta ao teu quarto
Chega a um sussurro...
Deita ao teu lado

Teus olhos
Remetem-me a águas antigas,
Velhas trovas de amor,
Valiosas profecias:
-Tua retina contém segredos
Que a ninguém revelarias-

Tuas mãos, não,
Essas não defino:
Tem uma certeza das minhas curvas
Conhece meus desatinos.
Louca viagem entre astros
Matéria, sonho, delírio.

Paixão é outra coisa
Amor é isso:
-Perder a noite
Pensando alto
Quando estar em teus braços
Não é possível-.

E o tempo
Inconstante,
falso
Mantém esse
Ritmo
.
.
.
Desacelerado.


(Jessiely)

domingo, 14 de outubro de 2007

Delirante




As ruas se cruzam
Com meus passos distintos
Certificando-me que sigo
Em rumo diferente
Ao da tua direção.
Perco-me nessa sensação.

Os faróis me descrevem
Assustam-me
Os pensamentos
Giram, mudam
E me pego descrevendo a angústia
Sentando ao meio-fio
Solidão...

-Os meus sentidos
Não perdem o desejo, o amor.
inconscientemente
Aplacam o meu grito
Minha dor-

Contudo.
Ergo-me.
Por que entre os néons que me cegam
Estão meus pés, incertos,
A cruzar esta cidade
-Apenas eles me restam-

A minha alma,
Há muito fugiu deste corpo
inanimado
Está longe, louca, só,
Em seu sonho desvairado,

Talvez esteja perdida pelas ruas;
Por entre poetas calados,
Crianças sem rumo,
Homens sem coração.

Mas, sonha e sorri,
( delirante )
-Que está de volta aos teus braços-.

(E quem sou eu agora para afirmar que não?)



- Jessiely Soares -

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Seu maior veneno







Ecôo por essa sala
enfeitada
Por quadros azuis
-Cujo artista
Durante a vida
Não conheceu a fama-.

Estou embriagada
De solidão
-à meia luz-.

Sobre a alcatifa
converso
Com as fotos antigas
De algum parente morto.

E algum mistério absorto
Pensa me atingir
(me escondo)

O medo não irá persuadir.
A solidão da alma
Que me rouba a paz
Deixa-me vulnerável.

- Mal que me corrói a vida
Maldito câncer
Irremediável-

Ressinto
Este sabor amargo
Deste vinho tinto
Com o qual sonhei um dia

E esse sentimento vil
- Seu maior veneno -
Inefável grito de melancolia.

Esqueço a face
Madrugada afora
Tua presença
Não irá chegar.

Brindemos,
Eis que estou só
Minha imagem mórbida
A me dilacerar

À Meia Luz...

Solidão.

[ embriagar]

(Jessiely)

Canteiro de Violetas





Já não alimento
Os tolos vícios de menina.

Nem tenho a centralidade
Do raciocínio concreto
Do que serei:
-Futuro.

O caminho que percorri
Por entre neblina
Era a minha vida;
Em dias de Sol.

E em dias calmos
Senti-me triste.
Eu tentei sorrir,
Juro!

Mas, estava tão escuro.
-Esqueci-.

Absurdo
Passar no canteiro
Entre as violetas
E não chorar.

Inconsistente
acreditar
-amanhã será melhor-.
Se eu nem sei mais se
A manhã acordará.

Impossível
Acreditar possível
Acho que perdi
A dádiva de sonhar.

Melhor deitar
Não Racionalizar,
Rezar um terço,
Fechar o corpo.


[Adormeço]


(Jessiely)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Espelhos





O meu amor
Não grita alto pela rua

Nem aparece na madrugada
A atirar pedrinhas na janela.

Meu amor sobrevive
À distância.

Mas se revela
- Espelha-se -
Através da Lua.

Meu amor está longe.
Minha alma
Nua.


(Jessiely)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Marcas


Não.

Não tenho mais os desejos
inconseqüentes
Dos meus quinze anos.

Nem a certeza,
Quase dormente,
De que tenho certeza
Sobre alguma coisa.

Não,
Não tenho.

Não.

Não posso
Dar-te agora
Nada mais
Do que não tenho.

- o meu mundo
É overdose,
confusão
De sentimentos -

Agora,
dou-te
O que antigamente queria
E não pude.

Porém sem a rebeldia,
Sem a beleza
(há muito perdida),
E sem os planos
inexplicavelmente
Maravilhosos,
Tão miraculosamente
Planejados um dia.

Dou-te colo,
Desses feitos
Pra dormir
E sonhar.

Dou-te
A confiança
De que estarei aqui
Quando o dia acabar

Dou-te a tranquilidade
De quem
Não quer a dança
Por temer o abismo.

Dou-te a paz
Da maré baixa em
Mar antigo.

Dou-te
aliás
Dou-me.

Tenho
As mãos marcadas
Pela idade
E pedaços
De sorrisos
Que perdi nas ruas.

Mas, ainda
Tenho no peito
A calma, a serenidade.
E a alma
intacta
De uma deusa nua.

Toma-me,
Sou tua.



(Jessiely)

Marcas

Não.

Não tenho mais os desejos
inconseqüentes
Dos meus quinze anos.

Nem a certeza,
Quase dormente,
De que tenho certeza
Sobre alguma coisa.

Não,
Não tenho.

Não.

Não posso
Dar-te agora
Nada mais
Do que não tenho.

- o meu mundo
É overdose,
confusão
De sentimentos -

Agora,
dou-te
O que antigamente queria
E não pude.

Porém sem a rebeldia,
Sem a beleza
(há muito perdida),
E sem os planos
inexplicavelmente
Maravilhosos,
Tão miraculosamente
Planejados um dia.

Dou-te colo,
Desses feitos
Pra dormir
E sonhar.

Dou-te
A confiança
De que estarei aqui
Quando o dia acabar

Dou-te a paz
De quem
Não quer a dança
Por temer o abismo.

Dou-te a paz
Da maré baixa em
Mar antigo.

Dou-te
aliás
Dou-me.

Tenho
As mãos marcadas
Pela idade
E pedaços
De sorrisos
Que perdi nas ruas.

Mas, ainda
Tenho no peito
A calma, a serenidade.
E a alma
intacta
De uma deusa nua.

Toma-me,
Sou tua.



(Jessiely)

domingo, 7 de outubro de 2007

Sentimento




Liberta do que me sufocava,
Desafio os meus segredos,
Entregue aos desvios,
Desatino-me escrevendo.

As minhas impressões
Não são pobres.
São apenas
As que me conheço.

Desarmada de vis pressões,
Transmito o que sinto
E transcrevo-me com calma.

- pobre daquele
que não derrama seu coração
sobre o papel branco
e não escreve com a alma -

Não há justificativa
Para um pensamento.

Nem é preciso suar
Para escrever o que penso.

Só preciso de um Luar
- e de um sentimento -
(Jessiely)

Incontida




Pela primeira vez
Sinto-te,
Universalmente,
longe de mim.

E me desespero.

Agora,
estou
incontida,
entre lua
e vida

- me acho
e me perco -

Entre o chão
e as vigas,
que sustentam
essa mórbida vida .

Entre o concreto
em nossa história
e esse vento
que me enleia,
me desabriga.

Desatinos surgem
e me deixam
incapaz de caminhar.

Meu vinho falha:
- Na hora em que preciso
ele não consegue
me embriagar -.

E sinto-me só.
Só demais,
demais;
só.
( Jessiely )

sábado, 6 de outubro de 2007

Faço-me Tua





Foi-se embora a madrugada
e eu não soube de ti,
Meio dia, presa à sala
admito : me perdi.

- A noite me fez menina -

Entre faróis que passam longe,
Entre o néon que me ilumina,
Entre os sertões que me afligem
A secar minha retina.

- Procuro-te na minha cama,
mas, nunca estiveste aqui -

Madrugada foi no vento,
sol a pino em teu lugar;
Agora sou só o lamento:
-O meu amor, onde estará?-

E assim sendo, os dias vão-se voando,
em desespero tento contê-los
Mas, são areias finas deslizando
no vão entre os meus dedos.

Encontro-me só a afugentar meus fantasmas
resignada a converter-me em saudade,
sigo os rastros da madrugada que retorna
e me embriago de insanidade.

-Então silenciosamente
Deito-me nua no meio da sala
e faço-me tua
por nossa vontade-.
( Jessiely )

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Teu Olhar Marginal


Luar
Arrebatado no Céu,
Ofuscando o brilho
Do teu sorriso nas estrelas.

Eu,
Perdida em incontáveis astros
Que brilharam em teus olhos
No meio da madrugada,

Faço-me completa
Ou despedaçada
Em milhões de sentimentos.

Ao som de um saxofone
Que toca Ravel
Dependurado na sacada
Do meu pensamento.

E me deixo louca,
Qual rosa despetalada
Num desabrochar
- intocada e nua -
Ao sabor do vento

E por teus olhos
Tão detalhistas,
Numa graça louca
Sinto-me observada.
Mas, no dito momento...

Desponta o Sol
Foge a graça da noite,
Meu sonho
Foi tão real!

- acordaram comigo
a luz que banhou a noite,
o som que ouvi tocar,
e teu olhar Marginal! –

(Jessiely)

Luar Bandido




Sonho acordada
Que seguro forte as suas mãos.

Mas, você está longe,
Eu bem sei.

Porém,
Esse vento tão suave,
Esse Luar tão antigo,
Teimam em trazer-me você.

- será que se sente assim também? -

Pelas ruas em que caminhei
Fui me deixando pouco a pouco.
E em seus braços, onde adormeci,
Imprimi as formas do meu corpo.

- será que ainda lembra do quanto fui feliz? -

Agora, todas as noites.
Sento-me com a saudade
E repito que te amo:
Com a face iluminada
Pelo néon dessa cidade.

- faz-me falta o seu verso,
para embriagar-me de insanidade -

Pensativa, solitária,
Olhando um Luar vagabundo
Que cisma em me enlouquecer,
(deixo vinho esquecido, imerso em melancolia)
Fico sonhando: "Com que sonhará você?".

E dessa imersão em sentimento
Suspiro sorrindo,
Imaginando conseguir lhe falar:

- Amanhecerei ao seu lado querido,
Porque aqui tão longe,
Já nem sei mais sobreviver...
Não sou sequer feliz,
E esse Luar bandido
Não me deixa adormecer-.
( Jessiely )

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Síntese


Havia teu cheiro.
- os lençóis,
a janela -
O Sol nascendo.



Os nossos corpos:
- enorme síntese
de tamanha paixão que nos uniu -


O Céu,
no alvorecer sobre o Recife.


A madrugada.
E nos amamos.
( Jessiely )

Teu Fogo




Pegue-me.

Mas pega leve,
Que quero voar.

Não me solta,
Mas deixa-me solta
Que assim planando
Irei te amar.
Sinto-me como grão de amor
-Que o vento carrega
em tua direção-

Teu fogo é que me dilacera
E perdida em teus braços
Sou transformação!

Não me larga,
Não me deixa à toa,
Mas me deixa ser
Como eu sempre fui:

Andorinha que se refaz no vento
Nesse teu sentimento
Deixa-me leve
- mas me possui -
( Jessiely )

Destino





O Sol que nasceu sobre nós dois
E encontrou-nos perdidos em tanto
Ainda nasce e para me matar de inveja,
- Toca teu corpo,
Tão longe de mim-.

-Por essas minhas ruas de primavera
Já não encontro minhas pegadas;
Por que as deixei junto as tuas
Nas noites chuvosas, pelas ruas molhadas-.

E agora, seduzida por teus olhos,
Embriagada a relembrar os teus carinhos
Meus passos firmes, porém solitários,
Convergem a procurar o teu caminho.

E não há contramão nessa estrada
Não temo nenhum erro ou desatino;
O que vejo entre nós é mais que amor
É paz, futuro certo:

- Destino.
( Jessiely )

domingo, 30 de setembro de 2007

Minhas poesias




Na noite em que o sentimento
Ultrapassa a alma,
E rasga a pele,
Eu sento e choro.

- Choro porque estou só.
Choro porque alivia o desgosto
Distribuindo a dor em lágrimas
Por outros membros do meu corpo-.

No momento em que sinto:
Que essa raiva me estrangula,
Que essa solidão agride,
E que essa covarde depressão me domina;
Eu desisto de repensar a vida.

-Não fumo mais,
porque não há mais fantasia
Em ver na fumaça que se esvai
Alguma possível saída-.

Hoje, não me entrego
aos delírios da embriaguez;
(Que me rendem uma ressaca na manhã seguinte.)
Nem me perco mais em livros de auto-ajuda;
(Não conseguirei mesmo me tornar Buda.)

Tudo o que me supre nessa noite
Em que solitariamente despedaço-me;
São as minhas poesias...

- Que perto assim de mim,
Comportam-se como amigas.
Não tem críticas a me tecer.
Fazem-me companhia-.

Nem cedem ao sono
Quando necessito que estejam perto.
E são estas (porcarias) poéticas que escrevo,
Que me deixam menos aflita:

- Será que não conseguiria usá-las
E reescrever a minha vida?-
( Jessiely )

sábado, 29 de setembro de 2007

É madrugada, estou só.


É Madrugada e me acho só.
Sinceramente, estou melhor assim.
Abro uma garrafa do meu melhor vinho.
Desponto-me a pensar em mim.

Minha vida não foi tão inglória
Não foi caos, nem passou por passar.
Ai que morro, mas não de remorsos.
Meus olhos cerrados, não querem chorar.

A noite tem esse fato.
Aconselha-me a recordar os desejos.
Mas, se miro a figura que amei,
Vejo a cor dos teus olhos no espelho.

Eles são umas sínteses de ti
tem cor de malícia e olhar de aconchego
pedem acolhimento e mostram coragem
seduzem sem se dar conta, me tomam por inteiro.

E assim, me perco dosando,
Tudo o que de bom me aconteceu.
Minha alma, aos poucos cala,
Com a lembrança daqueles olhos seus.

E se tudo for de fato, sonho ébrio.
Perco-me em teus olhos magistrais
Eu tentei – já desisti – torno-me etéreo
E saio a te roubar, mil beijos marginais.
( Jessiely )

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

˙·٠•♥♡ O que tenho em mim ˙·٠•♥♡




O que tenho em mim são resquícios de qualquer eufemismo barato:
São versos contraditórios, e nos quais eu não me acho.
Que me deixa na ilusão de que nada sou
– que me acabo-

O que tenho em mim são promessas
- desejos que nunca vivi-
Incontidos nessa manhã, desfiam vontades como essa.
De sentir aromas que jamais senti.


O que resta em mim são pedaços
- de todas as minhas vidas, e das mulheres que eu já fui-.
São pétalas, vinhos, vontades, abraços.
Poesias que me tomam nesse escuro que me possui.


O que me faz infeliz sou eu mesma.
E o que se esconde em mim, - já nem sei-.
Sentada nos meus ombros, está a minha consciência.
Repetindo que sou apenas, restos perdidos de tudo que sonhei.


E quando essa sensação salta da cama comigo
- o dia passa lento, quase a torturar-
Desvio os pensamentos, absorta na minha hipocrisia.
Decidida a não ouvir minha consciência a clamar :



"Tu não és quem fostes ó incompleta poesia,
És agora meu pedaço, que eu vivia a procurar.”


˙·٠•♥♡ (Jessiely)˙·٠•♥♡

Último Passo


Chove.
E aqui dentro de mim,
mil pensamentos e sensações.
Tudo menos frio.

Chove.
-Chove dentro de mim,
As lágrimas pela irracionalidade humana-.

E meu olhar, silenciosamente,
Chove de raiva;
Raiva das pedras que atirastes
Mesmo ao ver-me desarmada.

E, se me aparecesses - olhar marejado, voz turva-
Tarde demais:
- Tuas lágrimas não podem me afetar.
Teus sonhos desfeitos não me entristecem-.


E com a forma concisa que somente aqueles
que sofreram demais têm,
Eu mirei minha imagem no espelho,
Perscrutei minha retina,
Percebendo-me vazia... Sussurrei.
“-Livre!”.


Foi o último passo que trilhamos juntos.
( Jessiely )

Eu


O que eu escrevo não passa de porcaria
E o que eu digo não faz mais sentindo pra mim
Sou a perfeita inversão de alguma alegria
Estou na contagem regressiva do meu fim.
- Melancólica -
( Jessiely )

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Criação.





Escrevo a giz, sentada sozinha,
Encostada calada nessa parede vermelha...
Observo o jardim, a casa da vizinha...
Olho - sem ver - por cima das telhas a vida.

Tardes assim, sem nuvem, sem Sol.
Eu me pego calada, raciocinando, sentindo.
E com um giz, ou graveto, rabisco a parede, a areia.
E escondo dentro de mim, esse sentimento antigo.

Ah, suspiro, porque na verdade não há mais nada a fazer.
Esse fim de tarde manso, esse vento de anoitecer,
Acende-me as ilusões, me deixa a especular,
- Mais um dia se foi, e não sei onde vou chegar-.

O imprevisível, o insensato, o inimaginável.
Os opostos, os desastres, os conflitos.
O certo, o concreto, o imutável.
Calo no peito a angústia e meus gritos.

Sinto-me Atlas, mesmo tendo os ombros leves.
Pois o peso do meu mundo eu carrego nas mãos
Essas mãos que rabiscam mil sonhos tão breves,
Esconde a dor que trago e a minha solidão.

No peito tenho o fardo do cansaço do espírito.
E mil sonhos destruídos no meu coração.

Adormecido





Espero-te ansiosa à soleira da porta;
E o vento lá fora se faz anunciar.
Quem dera amado - se chegastes agora -
Poderias enxugar esse pranto a rolar.

Andei longos anos de luto eterno;
E as horas eram lentas demais.
Passeei entre trevas, sem ver os caminhos...
Hoje eu insisto, preciso de paz!

Ouça: - A chuva aumentou está mais frio agora,
porém, aqui dentro meu peito meu coração já dorme aquecido-.
Meu pensamento vagueia por muitas ruas, embora,
Saiba que tu estás a um canto, adormecido.

Tenho espaço demais nessa casa vazia,
O lençol sobre a cama que não quero deitar.
E eu miro o retrato, nossos doces sorrisos.
São pedaços de mim, que ninguém vai levar!

Amo-te


Amo-te.
Não porque foste meu por tempos imemoriais
Ou porque o lirismo comedido te trouxe entre versos e sonhos.
Amo-te porque me fizeste sorrir quando me faltava tudo o mais.

Amo-te.
Não por teus olhos castanhos (que me deixam extasiada),
Ou por tuas mãos (que me acariciam e me dão vida nova),
Mas pelo que sinto quando me olhas, me abraças,
E sussurras que longe de mim já não há mais nada.

Amo-te.
E não é surpreendente.

Se entre tantos eu te vi e me notaste.
Se naquele instante tu me reconheceste e recuaste o passo,
Voltando placidamente ao meu encontro,
E eu, já embriagada de tanto uísque,
Senti o encontro dos teus lábios no meu rosto,
Um - oi - sussurrado ao ouvido.

E tu não o sabes, (ou talvez saibas):
estremeci.
O ar fugiu.
E me rendi.

Amo-te,
Pelo sublime momento no qual me beijaste,
Deixando o rosto escorrer pelo meu até alçar-me os lábios.
Pelo sorriso doce lançado tão próximo à minha boca,
Como um explorador que enfim encontrou o que buscava.

E sabes, amo-te ainda mais,
Por não soltares minha mão naquela noite,
Por não soltares minha mão naquela manhã,
Por não soltares minha mão, meu amor.

certas loucuras


Enlouquecera. Assim cismara seus pais.
Cuidaram todos em trancá-la
Procuraram em todas as ervas
Uma forma de curá-la.

Quando a porta rangia a noite,
Inquietava-se toda a família.
Guardavam-na no quarto, cerravam a porta:
- Precisas descansar!- Só ela quem não compreendia.

Tantos anos já passados, curada, ela vaga pela rua.
Existe apenas - é um rosto na multidão-.
Com seu cabelo desarrumado, mal cortado
e o olhar que mira somente o chão.

Roubaram-na a juventude,
prenderam-na num castelo,
mas, alegaram que ela superaria.
-Se foram insanidades, deixaram-na sã;
Porém se havia paz, restara-lhe só agonia-.

Agora anda só, não fala, não olha.
Não chora, não ri, não dança...
Ceifaram a loucura? Sinceramente eu não sei.
Mas ceifaram-lhe a vida, a juventude, as esperanças.

“Foi o melhor pra ela” dizem seus pais
Eu aqui, fico com minhas desconfianças...

Raios de saudade




Afora teu cheiro, e teu carinho,
Nada mais me faz sentir falta.
Por nenhum outro motivo me faço esquecida :
- Deitada na rede, no meio da sala-.

Por mais que tente fugir;
Teu olhar me prende mais.
- Em que ruas eu tornarei a tocar-te?
Quando me devolverás tua paz?-

E a saudade me toma sem espera,
Os olhos marejados e um Sol que já se esconde no horizonte.
Torno-me raios de Saudades pelas ruas estreitas;
Na esperança que numa delas te encontre.

Cairia em teus braços,
Levar-me-ia embora
Junto com teu corpo,
Não me importa para onde,
- Nem a hora-.

A Tarde



O Sol brilhava entre as árvores, era Tardinha.
O chão salpicado de luz e sombra.
Eu observava calada, uma menina;
Que brincava feliz na grama na pracinha.

E os cabelos que voavam serelepes,
E os sorrisos que escapavam do rostinho,
E o brilho em seu olhar que se repetia
A cada revoar dos passarinhos.

Estive então, a rever um filme - em preto e branco -.
Que se passara há alguns anos atrás.
- Eu tive esse mesmo sorriso, essa alma leve.
Eu tive a mesma inocência, a mesma paz- .

A tarde some. A mãe da criança à pega no colo.
E ela se vai, a relutar, fazendo birra.
Não imagina que deixou em mim essa incógnita:
“Em que praça eu esqueci a minha vida”.

Agora, remonto o meu quebra-cabeça.
Tentando entender o que passou.
- Qual espelho mantém a minha face presa?
Que inocência eu perdi num grande amor?

-E essa efêmera alegria que passa,
Deixa apenas um corpo, que trabalha e que se cansa,
Descobri, tive muita pressa pra crescer,
-Eu perdi a minha alma de criança-.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Esses dias


Tenho sofrido esses dias
Mas não esses sofrimentos por perdas eternas:
Dessas que afligem,
Desequilibram, dilaceram.

Eu tenho sofrido as apáticas dores de existir.
- aquelas puramente inexplicáveis
e inexplicavelmente puras-
Estas já enraizadas em meu ser,
Acredito que já nasceram comigo.

Nesse meu sofrimento indefinido
Padeço vendo o Sol nascer,
E mesmo quando está a pino;
-ao meio dia- Parece que não pode me aquecer.

Fico sentada sozinha,
vendo o despontar da lua,
E nesse desencontro comigo mesma,
Parece que o astro me repele.
-Não me vejo mais como antes,
E nem saio mais à rua-.

Olhar-me no espelho para quê?
Não reconheço minha face.
Miro uma ou duas rugas,
Das quais não me recordo de ter visto,
Hoje pela manhã...

Ando pela casa, silenciosamente.
Essa ansiedade tem mesmo que aparecer?
Tenho que colocar a cabeça no travesseiro e dormir...

Não agüento ver,
Que já é manhã.
De um outro dia.

Mais um filho



Perdida em caminhos clandestinos
Fiz-me verdade, escultura, coração.
E nessa indecifrável reviravolta
Redijo incógnita sob a voz do coração.

O que escrevo é incorpóreo, incorruptível.
-espiritualidade, instinto maternal -.
O poema que expresso é mais um filho
Que lanço puro ao mundo material

E que seja, intempestivo nascimento,
Essa declaração sutil escrita em versos
Que contém mais de mim do que confesso
E em silêncio se espalha à reescrever o tempo

Prodigiosamente despedaço-me-
por já não ser o que eu era antes-
E incutida em desatinar um sonho ébrio
Perdida entre versos lancinantes

E os poemas que eu sinto, dou a luz.
-Aliviada-.
E depois que eles nascem sou feliz.
Sou mãe – esquecida- nas vertentes da minha estrada.

Pétalas Rubras


Pétalas Rubras no fim da tarde eu chorei.
E o silêncio desse instante me transpassa
Mil pecados, com o meu coração eu pequei.
E por castigo eu perdi as minhas asas.


Horizontes longínquos não te alcançam
E meu corpo é torpe andarilho a vagar
Sem destino, motivo ou descanso.
O silêncio em meus olhos faz meu coração gritar


E esse grito contido é desespero
E não pensar me embaraça os pensamentos
Não saber o que a vida me destina é loucura
- seguir sozinha, é tristeza, é tormento-.


Pétalas rubras no fim da tarde eu chorei.
A noite veio mansa, nem percebi.
Repensando os caminhos que trilhei
Entre lágrimas e lençóis eu adormeci.