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Um dia meu pai abriu as portas da casa de par em par ( casa antiga com grandes e pesadas portas que fechavam com tramelas), e pôs-se a caminho com as coisas que gostava.
Pousou os olhos na tarde.
Notou que nos batentes havia musgo.
Era um dia ignorado, semana de um ano qualquer. Foi-se, com coisas miúdas, como quem por gosto não deseja levar nada.
Nem a família, nem a casa, nem as cartas.
Depois, pouco se ouviu dele: sem rastros, sem um rasgo de perfume. Sendo portanto alguém que, não havendo amado, também nenhum amor deixara.
Normalmente sinto sua falta. Saudade é coisa que fumega, vai cortando espaço.
O amor é um contratempo. Quiçá, uma eventualidade. Dá-se a quem não merece tanto a quem faz por merecer.
Há dias em que esse todo vazio me arde como um temporal de estilhaços.
(Jessiely Soares)
Imagem: GettyImages
1 comentários:
qta força e nudez nas suas palavras. trazem mudez e me alarga o tempo do talvez.
abs
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