terça-feira, 28 de outubro de 2008

Constância


*


É escuro
na noite mais antiga
na canção em pleno vento.

É deserto
mesmo quando a chuva
molha
as estradas, as veredas
e as imagens que invento.

E nas coisas que recito
mesmo baixo, sussurrado
sempre há um negro grito

Esse brado escondido

Nessas ruas tão vazias.
Nas palavras que invento.
Nos pesadelos e nos becos,

da poesia como ofício.



(Jessiely Soares)

Intempérie


O que transfigura
a excelsa sutileza
nos mesmos fins de tarde

é que agora
meu mar de Sal
escasso

deixou um desertos de espaços

que pela casa
brincam de piratas.

E a estátua
de nossos olhos
posta de costas
para o nada

- a salvo de todos os males
que navegam nesses mistérios
de casas com luzes
semi-apagadas -

Não mais observa a saudade
espalhada.


(Jessiely  Soares)


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Resquícios e guardanapos

 
Debaixo dessa lua
o dia morre bonito
nas confidências de boteco.

 Vinho, e tinto verso

Se tu me deres uma só razão
posso escrever um poema
ou,
virar atriz de alguma peça de quinta
que te fará
perdoar minha embriaguez

Mas, não se deixe levar pelo meu
sorriso.
É etílico e vicia.

Como aquela lenda
de que existe nesses
nossos cantos
alguma dose subliminar de sensatez.

Deixe o sereno morrer...
algum som de violão
vai meditando nossa noite
enquanto a rua
veste-se de alguns rumores
e dá-se por esquecida,

entregues aos contornos
de uma meia madrugada,
com um velho tinto na mesa

e uns retalhos
de poesia.


(Jessiely Soares)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

antífona





religiosamente
recito teu nome

– meu confessor –

som a som
num brado
sacramentado
nas conjecturas
de um adivinho
faz muito tempo


– séculos talvez –


mas sejamos leves
e as profecias entoadas
serão breves

são o presságio
guardado num códice sagaz

teu grito se esconderá
na bainha em que guardo
o vaticínio e a oblação

não se pode ter tudo
não se pode.


(Rosa Cardoso)

Decorativo

Casa Vazia. Foto de: Fernando Lyra


Suporta

a torta vizinhança
os parentes inconstantes

os inúteis e sua crença
esses amigos de instantes

toda a sorte dessa raça avulsa
não será mais que uma foto

decorando tua estante



(Lanoia)