domingo, 28 de dezembro de 2008

Tua voz

*



Com teu verso
sobre meu rosto

marque-me
como seu vício
inexato,


Enquanto Cash ressoa
(hurt)
inundando o ambiente

Entre...

me fira,
se insira
em meus espaços

De um corte a outro,
me faça
sua

E eu prometo,

nunca mais
me
despedaço.



(Jessiely Soares)

sábado, 27 de dezembro de 2008

Prisma


Para pintar essa madrugada
eu preciso das tintas
que deixei em tua cama

Exilada e extinta,
o que me sobra, faminta,
é um baú de memórias
e uma íris morta,
suja e carbonizada.

Para tingir esse céu negro
de alguma espessa camada
de sombras e lágrimas,

é necessário que chova
as matizes exatas...

Eu preciso de teus olhos,
senão, não haverá cor,
para eu recompor a alvorada.




(Jessiely Soares)



Foto: "Acordo a noite"
Autor da foto: Vieirinha

Dormente



Eu te toquei bem de leve
e tu nem notaste

Eis que a lua jazia
tal qual pedra
e sorria
dos meus sonhos fugazes.

Eu te olhei,
noturna,
e tu nem notaste

Eis que a lua
caia
surda e vadia
sob os meus vagos olhares

Eu parti
era manhã
e tu despertavas

Meu joio e meu trigo,
meu sinal
e sentido
dos girassóis perdidos
em meus olhos seculares...

... te toquei bem de leve,
com mil corpos celestes
e tu nem notaste.



(Jessiely Soares)

domingo, 14 de dezembro de 2008

Vento de levante



*


Na caravana
que cruza o levante
da manhã que nunca termina

antigüidades de oceanos
engolem vidas perdidas
imersas no próprio destino
dos teus olhos desertificados.

Sob ação de desgaste profano,
de tantos mudos enganos
na caravana, da eterna partida
agonizam amores fantásticos.



(Jessiely Soares)

Quando o canto te alcançar



*


Tu, que não me ouves, deverias saber...

Que há agora, distante de ti,
uma ave, pousada.
E canta,
de acordo com o timbre
da minha voz no espelho.

Na tua noite,
sirenes correm a rua,
em busca do paradeiro
de alguém que agarrou a liberdade
por cima dos muros da prisão.

A lua nunca foi tão imensa
quanto para quem a aceitou
com o peito ferido e criminoso.

Madrugadas são palpáveis para quem se oculta nas sombras.

Algum cantador afina sussurros
em alguma das pontes
do rio que te corre nas veias
e alguém adormece na praça
do Arsenal.

Todos já saem pela noite
em busca de luzes amarelas
e vinhos celestiais
Carregam mentiras e passados,
como reflexos de fogos de artifício...

Ao meu redor,
silencioso entre vales,
meu vilarejo dorme.
Uma névoa cai, pesada.

Não há passantes por sob meu peitoril.
E, é preciso dizer, que não os necessito.

Na amarga calma da pequena vila,
a castanheira abriga o pássaro,
pousado sobre o meu parapeito.

E eu vivo a vida inteira, nesse pequeno e absurdo contentamento.

Quem sabe, ao amanhecer
sob o seguro acalmar de tua janela
de terceiro andar,
o som, quem sabe, seja mais,
que simples ecos de metrópole recém-adormecida

Quem sabe, inaudível, ouças...
como um contato benigno com a eterna liberdade,
e já calados, todos os sons que alarmaram a tua quietude,
Quem sabe ouças, sem saber disso,
entre tantas cidades cortadas,
o canto em que tu me habitas, dessa mesma ave.


*



(Jessiely Soares)