segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Diário da Distância II




Descobri que meu coração gosta de pontes. Sem importar o rio, os canais: Paraíba, Waal, Capibaribe.
A claridade da água de Porto. O sabor de cerveja das Boas Viagens.

Meu coração gosta da lembrança da pousada com janela pro mar. Do gosto de permanecer adornada pelo Galo da madrugada e por desconhecidos campos de tulipas.

Eu não tenho sensores.
Não gosto de celulares ligados, justamente, porque não sei contornar distâncias pelo fio do telefone.

Eu temo às vezes não ser desse mundo moderno. Por não compartilhar com efemeridade do contentamento da Webcam como porta de saída de para solidão da universalidade.

Meu coração gosta das pontes que cantam frevo. E das que visualizam moinhos.

De distâncias ele só gosta, por ocasião de necessidade: paisagem de pontes, mundos distantes; o homem que amo nos Recifes da vida , a amiga, aventureira, na Holanda e eu, nem ao menos, lhe sei mais a cidade.



Jessiely Soares

sábado, 26 de setembro de 2009

Ella





"Se as minhas mãos pudessem desfolhar"

                                         (Garcia Lorca)

Ela, de acordo com o dicionário, flexão feminina de ele. Metamorfose que cabia no vão de uma porta. Algo inconcluso, como um bordado de meio Sol, que não era sequer eclipse.
De mãos meio acorrentadas, com alguns trocados no bolso, era a imagem da perseverança falha.

Nada lhe pertencia.
Apenas recitava ― calada ― alguns poemas de Lorca, em um tempo de desabitar desejos.

Universo incompleto, desprovida de átomos.
Uma nudez, uma paisagem de seca.

Sequer os desvarios lhe perteciam.

Na breve contagem dos dias, se sentia a perfeição de porcelana: Mãos definidas e paradas, coração de singeleza opaca, boneca indiferente com rosto bonito.

E uma metade de um poema esquecido para ser escrito na lápide.



(Jessiely Soares)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

P&B



Saudade: Você pousado na sala com uma tez de papel e um sorriso constante.

Deixo minha vida, sentada ao teu lado, 
um retrato, de branco e preto desbotado,


na mudez da estante.


(Jessiely Soares)

Extremos


 Para Nathércia,
Porque todas as Tulipas me lembram ela.



Talvez se antes da rua de pedra alguém plantasse tulipas,
eu sentasse de frente para os meus sonhos e os dissesse:

- Pequeninos, vocês ainda moram comigo?




(Jessiely Soares)

Silêncios



Tenho bordado uma cantiga de ninar por dia.
A noite, tendo ouvido, tem chegado devagar.

Temos adormecido juntas, cantando manhã para pardais.




(Jessiely Soares)