sábado, 29 de novembro de 2008

Nau frágil


*


Fio
invisível
me pescou

aflita.

A linha
que me levou

naufragou
barco e pesca

rumo ao teu tesouro escondido.

Dia bendito em que me afastei
do mar na tua rede

tua cama,
oxigênio.

Não sinto falta do meu habitat

Tu me fizeste esquecer
que um dia
tive
sede.




(Jessiely Soares)

domingo, 23 de novembro de 2008

Pintura a Óleo


*


Eu derramei
dois pingos de tinta
na nudez do teu olhar.

Manchei tua pupila.

De agora em diante,
não me presto a ser estátua,
nem quero ser absolvida.

Não escreverei cartas no muros
e nem relembrarei,
teus poemas
se me pedires.

Espalharei versos cegos
e tintas negras
em tuas meias-verdades,

Cegarei as minhas dores
nas cores
da tua íris.




(Jessiely Soares)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sobre o Rio Paraíba e a saudade

*

 

Aquela fumaça
- clarão assolando
o meio da mata -

E a placa no meio do barro
que teima em fingir-se de estrada

"Ponte interditada"

Não faziam sentido.

"Acesso a um carro por vez
a ponte do Rio Paraíba.
Peso controlado.
Perigo."

Mas, como? Se meu corpo,
sem contar os adicionais,
pesava por todo o espaço.

Por gosto, guardei no meu peito
seus passos indecisos
e as lágrimas da pequena
por sua ausência.

Enquanto a poeira cobria
aquele sorriso escondido
que nossos rostos fabricam
entre o olhar e a reticência

Eu, atravessando as queimadas
e as pontes desativadas
fui fiando o caminho

fazendo trilhas na noite
da eterna distância ingrata.

Enquanto a cana de açúcar
prevendo a morte da ponte
Queimava para iluminar a estrada.




(Jessiely Soares)

sábado, 1 de novembro de 2008

Abstinência

 
Pintura de:Angel Estevez


*


Sendo, eu,
abstrata
ponha-me
figurante

ao lado da tua sala

prometo
que não serei luminosa

meus últimos anéis
ficaram, insanos,
na constelação

há muito naufragada

Pudera!

Eu não sei mais me ver
no espelho dos teus dias

Tuas hierarquias
tolas, dizimadas

Me puseram sobre o nada
numa mobilidade
invertida.

e antes da luz que viria...

Encha-me de preceitos
espalhe beijos e apelos
e no meio da febre

coloque-me, sujeito,
na tua sala
como poesia.


(Jessiely Soares)