domingo, 19 de dezembro de 2010

Presente: Un video para ponerse a llorar.



"Fecha meu livro, se por agora,
não tens motivo nenhum de pranto"

(Manuel Bandeira)

sábado, 30 de outubro de 2010

Dejavú

Minha mãe e eu criamos Anniely desde que ela era apenas um pensamento.
Ficamos felizes com sua chegada porque ela trouxe, além de alegria, um cheiro de bebê pela casa.
Nós a educamos com singelezas e aos finais de semana saímos a passear em campos de borboletas.
Todavia minha mãe tem uma idéia de cantar inocência e as Pretinhas da Guiné, depois do trabalho, com a vida cansada de tantos alunos diários. Também tem o costume de achar que palavras ao contrário, desde que vindas da minha filha, são coisas encantadas. Eu discordo de alguns pontos...
O bonito dessa história vai ser ver Anniely, que desde a mais tenra idade deixa claro que detesta regras, crescer e dizer aos filhos:

- Minha avó? Minha avó é uma revolucionária!



(Jessiely Soares)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Espelho

"A importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós" (Manoel de Barros)



Começo de tarde
minha filha pega o papel
recém escrito
e lê sonoro

"A pedra me revira
serpenteia
me tem pelo avesso"

e o mundo inteiro
gira solene.

Eu tinha que trabalhar
às 14:00 horas batidas
e a voz ainda está presa
em algum lugar secreto.

Nunca mais vou esquecer
o dia em que dei de ouvir
pela primeira vez
o meu melhor Poema
lendo a minha poesia.



(Jessiely Soares)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Recomeço



Setembro de um ano qualquer
na janela para o poente.

Ele não fez segredo,
não fez sermão, não fez gestos grandes.

A porta abriu devagar
e o mato entrou pelo avesso do tapete,
não há grandes singelezas no mato
como também não há singeleza em aranhas marrons.

Ao contrário do vento há uma torre
e do lado contrário da torre
uma floresta de eucaliptos que gastam muita água.

As flores no batente indicam caminho
as roxas querem dizer que sente saudade
e que já sente muito pela ausência.

O bilhete não é necessário
tal qual não é necessária assinatura.

Para certas coisas, basta o rastro, basta o faro
bastam as pistas.

Para grandes amores
basta apenas um aceno
e tudo que há lá dentro
vai se abrindo em gomos, em gomos, em gomos
até dar semente.

O amor é isso
uma eterna repetição
do primeiro pé de planta inventado em vaso de barro.

Há de ser pérpetua,
mesmo que seja diferente a cor da flor,
a repetição da raiz.


(Jessiely Soares)


Versos à Quintana





Um dia alguém comentou
que todos os dias há no mar
pequenos rastros de vida.

- As pessoas não somem simplesmente,
lembre, lembre de Iemanjá -

E eu quase acredito
porque vejo os sorrisos deixarem rastros.
Eu acredito que todos os dias devíamos nadar,

nadar é como voar...
eu não tenho fôlego, por isso, não nado.
É mal de asma.

Hoje estou em crise

e a respiração vai querendo sair do eixo
que lhe foi ensinado,
por isso escapuli da cama
e vim madrugar com letras.

Um dia eu li em Quintana
que quem escreve um poema, salva um afogado.

Eu não tenho fôlego para ser sereia.
Todavia se meu pulmão me sufoca, sei como respirar.


(Jessiely Soares)

Achei a imagem aqui: http://cassiooliv.files.wordpress.com/2008/12/mws-breathe.jpg

domingo, 24 de outubro de 2010

Clarins

Foi escrevendo cancões sem ritmo

que eu dei conta de mim.

Sou uma nota sem encaixe.

O piano está desafinado
e a culpa não é minha

nem dessa hora imprópria
para tanta infelicidade.

Na janela, batuca um galho.
Os ventos vão assoviando
e já faz noite nas nuvens

O que posso esperar?

Moço, moço
você já dorme, eu sei que dorme.

E tudo aqui fora parece
uma gigante sinfonia de saudade.



(Jessiely Soares)

Canção da madrugada

Quando estava próximo
o precipício
dei de entender
o quanto é longínqua a estrada.

No rumorejar das pedras
fui fazendo um canal de enfermidades,
Uma plantação: acres e mais acres de areial.

Frutas mutantes.
É difícil a saída,
os permonores são estreitos
mal cabem num sorriso.

Logo eu, sempre tão geniosa
me pego despercebida
madrugando canções.

pensando em tempestades.

Logo eu
que por muito tempo acreditei
que tudo, tudo nessa vida
estava pousado numa estrela
de
lírio
e
desastre.


(Jessiely Soares)

Serenata


Os pequenos meninos dormem.
Os sonhos são tão azuis.

De tanta calma essa cidade emerge
num mar de deserto.

Pequenos diamantes vão catando seus vãos
e o céu vai virando precioso.

Por muitas vezes, Bananeiras,
seu sobrados,
suas esquinas,
seus casarões e suas travessas
foram tão silenciosos
quanto esse violão calado,
quanto nossas vozes caladas,
Na sublime imensidão de seus seculares olhos.


(Jessiely Soares)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Iluminada




Quando minha avó morreu, minha mãe ainda era feita de sonhos.
Era uma coisa mirrada, com nove anos de idade e uma estrada pela frente.

Era jangada pequena sem ancoradouro, durante à noite tinha medo.

Quando eu nasci, ela me guardou e não deixou que me faltasse caminho.
Ela inventava magia - mesmo quando não a tinha, - aprendi a ler a vida com seus desenhos.

É toda feita de segredos
e de pequenas poesias:

Quando me vejo sem luz volto pra ela, porque me sabe iluminar...
meu Farol-Mainha.



(Jessiely Soares)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quase aos Seis Anos



Amamentei por muitos anos.
Criei uma menina ao seio e isto me orgulha

Hoje,
ela adormece sozinha
dando boa noite
e recomendando que eu me cubra
para não sentir frio.

Ela está no quarto ao lado

não há risco,
mas eu sinto tanto a sua falta
que corro para sua cama
e ainda canto alguma musiquinha.

Tem horas em que vê-la crescer
dói.



(Jessiely Soares)

Hora do sono






Minha filha tem cinco anos.
Cabelos ondulados.
Facilidade para espantar tristezas alheias
E um espírito glorioso.

Já ouvi duas bonecas conversando
pequenos segredos de caixinhas.
Falavam dela...
não me perceberam.

A mais nova dizia
que não queria dormir
porque era bonito
vê-la
enquanto ressonava.

Não me assustei, concordei até,
essa minha menina quando adormece
fica muito mais linda
que qualquer pôr-do-sol
que qualquer cerejeira em flor.


(Jessiely Soares)

Pé - de - memórias




Olhei tão quieta.
Na menor lembrança que tenho
ele era muito mais alto,
alto e inquieto.

Talvez eu tenha crescido muito
e as coisas tenham saído do foco.

Hoje ele cantou
quando eu cheguei,
no meio dos quarenta graus
eu distorcia imagens.

Calamos porque reencontros não são fáceis,
corri minha mão no seu sorriso.

Seus espaços estão dourados
as folhas se espalhando,
é a estação que vai florir.

 
 
 
(Jessiely Soares)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

História




Não fui feita para grandes saudades.


Fui parida para
me adequar às dores
como ponto de partida.

Vez em quando
o moço vem e me rouba a poesia.

Onde eu estou com a cabeça
quando me deixo apaixonar?

Em dias como hoje
só cabe o domingo na janela:

Minha mãe a partir distâncias entre minha casa e a dela.
Meu pai não sei por onde,
meus avós pelo chão,
meus tios, mundo.
Primos? Nem sei.

O pensamento cabe no vão.
A filha cabe na sala
e diz pequenos sorrisos.

A casa inteira principia
uma despedida da tarde.
É hora de vestir agasalhos
e de acordar os travesseiros...

Bem vindo ao lar,
pardal que mora na árvore vizinha!

Minha árvore genealógica
tem tantas lacunas
que há várias gerações não sei
para qual ninho voltar.





(...)

Imagem: J. Vieira

Jessiely Soares

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

°C


Ele não veio
porque não pôde.

Porque lá fora faz 15 graus
e todas as pessoas da minha terra
se recolhem quando lá fora faz tamanho frio.

Uma vez em seus lares
elas abrem vinhos
e pensam em coisas quentes
como lareira e sorrisos
e a casa cheira a mistérios de parafina.

Quando faz frio
- e ele, claro, não vem -
eu acendo todos os meus vendavais
e deixo que tudo sopre em mim.

Os meus silêncios e os dele.
Os meus segredos e os dele,
e nessa tênue camada de gelo
que se instalou nas nossas vidas.



 
(Jessiely Soares)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Receita para acordar valente




"e valente
tu és valente"

ele me disse assim
sem nem pestanejar.

E eu que me vejo
como uma nau sem rumo
parei e fiquei aflita.

Onde fica a minha valentia?

Tenho medos que me assaltam as
três da manhã
porque li que o fantasma de Canterville
preferia esse horário.

Nem minha filha
tem medo do fantasma de Canterville!

Talvez toda essa minha valentia,
essa nordestinidade,
se cubra e adormeça com medo do Sol.
Nunca sei o que se dá com ela.

Mas ele disse que sou valente.
E assim sendo, vou me fazendo tão forte,
tão certeza, tão muralha,
tão fortemente armada,
que acabo ficando a salvo de mim mesma.



(Jessiely Soares)

imagem daqui: www.peregrina.bloguepessoal.com

Fósseis


*






De acordo com as coisas
nas quais acredito
esse meu vazio é cíclico
e irremediável.

O que vai segurando as pontas
é a menina que se aconchega
e me desenha com sacola de feira...
Além disso, ainda completa
entre maçãs e tomates
"a mamãe é tão charmosa"

e a vida vai ganhando alguma cor
entre ciano e rosa.

Alguma cinza assenta...
é essa minha mania
de chorar lágrimas paleolíticas.

Algo dentro de mim
nunca me deixou superar
a idade dolorosa
dos meus cinco anos.


(Jessiely Soares)




Imagem: ahoraechegada.blogspot.com

domingo, 25 de julho de 2010

Binariedades



Fazia vento e minha janela abria sozinha.
Tempos raros,
os ventos trazem cheiro de deserto,
lugares onde nunca estive.


Eu tive medo,
ele foi embora;
fechou a porta atrás de si
ficou offline.

Esse mundo tão moderno!

até dizer "ainda te amo"
tem sido globalizadamente difícil.



(Jessiely Soares)

Vinte e Cinco de Julho de Dois Mil e Dez

http://intellectdeluxes.zip.net/images/Nevoa.jpg




Amanheceu.
Na janela, apoiada no frio,
estávamos a caneca, o café,
o casaco e o cachecol;
olhos pesados
5:40 da manhã.

O mundo inteiro
(incluindo o meu sorriso e o seu)
era uma névoa




só.













 
(Jessiely Soares)



A imagem daqui:

http://vintefaces.wordpress.com/2008/04/27/a-tocha-chega-a-vau-ashaben/

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Histórias de princesas e castelos

*



Depois que você chegou, princesa de asa encantada,
a casa virou
um sorriso.

Em cada panela ou móvel,
cada planta ou escada,
há um pouco do seu brilho
ou uma flor desenhada.

Tanta mágica você inventou.

E agora que você nasceu,
pondo som em poema

yo creo en las hadas,
yo creo en las hadas!




(Jessiely Soares)

Segredinhos

http://houseofbeauty.files.wordpress.com/2008/09/bolhas-de-sabao.jpg


Pousadas
uma a uma
estão as palavras
numa ponta da mesa que dá pra janela.

Se cada uma delas
num salto
alcançasse a beirada
na qual brinca
com chuva, um besouro

teríamos um poema de ar
e uma chuva
de bolhas de sabão
e tesouros.




(Jessiely Soares)

Olhos de Azul Céu

.




Um dia meu pai abriu as portas da casa de par em par ( casa antiga com grandes e pesadas portas que fechavam com tramelas), e pôs-se a caminho com as coisas que gostava.

Pousou os olhos na tarde.
Notou que nos batentes havia musgo.

Era um dia ignorado, semana de um ano qualquer. Foi-se, com coisas miúdas, como quem por gosto não deseja levar nada.
Nem a família, nem a casa, nem as cartas.

Depois, pouco se ouviu dele: sem rastros, sem um rasgo de perfume. Sendo portanto alguém que, não havendo amado, também nenhum amor deixara.

Normalmente sinto sua falta. Saudade é coisa que fumega, vai cortando espaço.

O amor é um contratempo. Quiçá, uma eventualidade. Dá-se a quem não merece tanto a quem faz por merecer.

Há dias em que esse todo vazio me arde como um temporal de estilhaços.




(Jessiely Soares)



Imagem: GettyImages

terça-feira, 30 de março de 2010

Matinal

http://entrequatroparedes.files.wordpress.com/2008/12/cafe-da-manha1.jpg

Amanhecer
é algo sorrateiro;
uma luz que entra por baixo da porta
e vem se aninhar perto da cama.

Um pequeno desencontro de horas.

É quando o corpo se despede
do corpo de quem se ama
clareando o estradão inteiro.

E é nessas horas
compassadas
que a minha vida levanta

para preparar o café,
para esperar o bom dia.

Manhãs aqui em casa acordam cedo
e sempre vêm embrulhadas num beijo
quiçá, numa poesia.



(Jessiely Soares)

Cria





Menina,

se você já soubesse me ler
poderia ser que eu me encabulasse
e não escrevesse mais
nenhum poema pra você.

Mas você ainda não me atingiu aquela fase,
você ainda lê tatu,
o lobo,
o bobo,
o dado
e idade,

enquanto eu vejo o jornal
no rec-rec da cadeira de balanço.

Um dia você sentará ao meu lado
e me dirá, sem titubear, duas frases de Dostoiévski,
assim, na lata
sem a menor compaixão.

E então, vou esconder meus poemas
menina,
minhas rimas são tão pobres!

para você
(por tão grande amor)
eu só escrevo

com o coração, coração
coração.




(Jessiely Soares)

sábado, 27 de março de 2010

Carpe Diem

http://senhoradolago.blogs.sapo.pt/arquivo/esquina.jpg

Ela já inventou outonos.
Coisas simples, segundo ela, de se inventar.

Eu ando apostando comigo mesma
que em alguma manhã, de qualquer estação,
darei de cara com ela.

Numa janela clara,
aonde uma folha desperta.

Não tenho pressa.
Tenho canteiros de flores,
galerias abertas,
frevo no carnaval.

Tem dias em que amanheço muito amarga, amarga e doce.
E outros em que amanheço por demais desavisada;
com um mundo batendo palmas na varanda
numa era antiglacial.

Sei que em alguma ladeira ela vem vindo,
numa carruagem, com cavalos brancos,
usando um salto quebrado e
uma coroa de louros.

Silenciosa, como ela só.

Vida, Vida,
lhe encontro ainda,
enquanto me faço mil por quês
em qualquer uma dessas suas esquina.




(Jessiely Soares)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Teatro de chuva

*



Árvores, pedras e bancos
eu,
a casa,
a minha filha

o café
e a sopa fumegando.

Um dos espetáculos mais lindos
é quando nos abraçamos na sala
para ver a noite dançando.




(Jessiely Soares)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Aquarela


Pássaros por sobre a sala de jantar.
Flores num quadro da sala principal.
Beija-flor, natureza morta, e borboletas.

Uma casa inteira
cheia de arte.

Mas há dias em que me pergunto
com que malditos pincéis
eu me pintei
feliz em partes?



(Jessiely Soares)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Afagos







Aos poucos
eu fui aprendendo
o caminho do mar.

Depois de tanto anos
esse mesmo encontro de águas...
Nesse mesmo período de chuvas
um dia a vida
veio a dar com seus olhos nos meus.

Pobre de quem pôs seu sorriso
longe das areias do tempo.

O desgaste das encostas
o velho encontro das rotas

Até as coisas
que você nem nota

trazem seu nome no vento.





(Jessiely Soares)

quinta-feira, 4 de março de 2010

B612

http://presentededeus.files.wordpress.com/2008/12/universo.jpg


De pequeno em pequeno o dia vai tomando forma.
O vento vem
e o leva embora
enquanto as nuvens vão ganhando estrelas.

Não entendo para que tanta coisa nesse mundo
por que tanta terra,
por que tanta distância,
pra que tanta nuvem viajante

e nem por que seu sorriso mora longe:
longe e leve
meu pequeno planeta.



(Jessiely Soares)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Quadrinha para acordar princesa

.

Sol pousado na janela
com asas de passarinho.

Dia que começa cantado,
esvoaçante e quentinho.




(Jessiely Soares)

O2

http://ferrus.blogs.sapo.pt/arquivo/Folha.jpg

Quando você se põe
feito poema na minha
noite
não há mais cor na noite.

Quando a noite
vira poema
na sua mão

não há mais nenhuma mão.

Nem sua,
nem minha

E é quando
as coisas se desvanecem a ponto de serem
só algumas rupturas

com cheiro de pó e narciso.

Tem coisas que dão cores,
tem coisas que tem olores
e
algumas são só
leveza.

- são nessas em que eu lhe respiro.



(Jessiely Soares)

Êxodo

http://www.myfreewallpapers.net/fantasy/wallpapers/flying-faeries.jpg



Meu poema
é um retirante.

Segue a manhã que cala
ao sabor do vento tropical

desliza por entre nevascas
casas desabitadas,
por penhascos,
por estantes.

Orvalho,
poeira,
argila e granito.

Pelas flores mais suaves,
pelos ipês,
pelos grilos
por plátanos e por calçadas.

Se um dia
num trânsito engarrafado
ou no meio do granizo
lhe cair no colo
um poema meu
não se assuste,

não grite!

Meu poema
é um retirante.

Ele lhe procura pelo mundo inteiro

e só porque lhe acha
é que de fato existe






(Jessiely Soares)

Migrante


ramo de vozes noturnas
vento que sopra do leste.

coisas que a manhã sussura
sonhos - dos quais nunca se esquece.

Morador dos meus silêncios de vidro:

se nada mais for - é sentido
se mais nada é luz - me aquece.




(Jessiely Soares)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dentro do túnel tem luz.

(Poemas para Lanoia

porque foi ideia dele,
(idéia sem acento, isso ainda me mata !)
imagem dele, inspiradora culpa dele.

Beijos, Docinho!)




O destino da sua rota é a saída.

Forte das cinco pontas,
a sua fragata nunca me aporta,
marinheiro dos meus remansos
de claras lágrimas encolhidas.

No seus cantos
ruflar de velas brancas,
íris lançando âncoras

e uma sagrada noite de partida.







_________________________***



Segredos rumam ao seu lado
e eu
desenho o seu retrato

em tudo que eu puder.

Como se você ainda aqui estivesse:

lembranças repartidas ao fundo
segredos de amores

Lágrimas como se fossem
pedaços de alguma estrela silvestre.



_________________________***



O símbolo
da circuferência
dos teus olhos

cânticos de penitência
altares de segredos mortos

de sangue e de despedida.

Povoados de silêncio.




_________________________***




(Jessiely Soares)

Preocupações

                              http://www.casadeicaro.com.br/images/Notas_musicais.jpg


Divisas
subterfúgios
há dias
em que tudo acontece

Manhãs como essa
em que tudo se aglomera.
Tiro as sandálias,
jogo tudo na música.

Vai cantando a casa toda,

Dont worry,
Dont worry,
Be happy.



(Jessiely Soares)

Memórias

http://farm3.static.flickr.com/2264/2254734078_8ec817baef.jpg

(Despotam discursos noturnos
dentro dos meus sonhos)

O mundo morador da pedra.
nasce da vida silenciosa,
Rosa, Gueixa,
contendo em si
os cânticos da noite.

Dos ruídos,
entre as breves manhãs de fogueira,
mares de mansidão

singelos segredos de areia.




(Jessiely Soares)

Aquário

http://www.imotion.com.br/imagens/data/media/83/7265aquario.jpg


Eu retorno dos sonhos
porque é sempre necessário.

mas eu deixo os desejos
águas-vivas
na singela claridade do aquário

Nesse santuário vivo
onde repouso
as minhas grandes navegações

Há dias em que os meus
ondulares rasos
tem mais segredos
que os profundos labirintos,

e mais revolta que todos os tufões.




(Jessiely Soares)

secretos

http://xnightwitx.no.sapo.pt/blue_flower.jpg


Despercebido
seu sonho não sabe
o caminho da sua vida-chama.

Segredos de armistício.
de um mundo que só gira
porque seu olhar secreto

soltas fagulhas emana.

Onde anda a sua mente
eu não sei,
mas o teu sorriso,
esse louco guerrilheiro dos meus vícios
anda completando meus espaços:
confusão de pequenos estilhaços
espelhos de uma uma lua soberana.

Há muito já não sei andar sozinha,
unidas mãos, soltas feridas dessa sina.
sua vida pela minha vida anda.



(Jessiely Soares)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Annie


De que matéria
você é feita
para ser
metade calmaria
e a outra corredeira?

Qual o anjo
tão bendito
esculpiu
o seu sorriso
e suas
graciosas bochechas?

Menina
que se coube inteira
dentro da minha vida.

Menina,
musa dos meus poemas
Misto de perfume
brinquedos e fantasia.

De que manhã
foram os seus olhos,
de rumos ignotos,
criados e pintados
para serem belos?

De que noite
foram feitos seus
sonhos?
De quais constelações,
princesas e castelos?

Menina,
que foi o meu útero
que é meu arbítrio,
que é meu desejo.

Menina,
que adormece a casa
quando adormece
sem me dar um beijo.

Meu contato direto com o infinito...
De que lugar
tão vasto e bonito
você saiu voando
para pousar em mim?




(Jessiely Soares)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sintética II

*



Ruídos de papel pela madrugada
ou são traças pela noite
ou poesia pela casa.



*

sintética

*




é noite na gaveta
e a poesia está desfeita
no papel que dorme em paz.



(Jessiely Soares)

*

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Clima

http://wordsimages.paginas.sapo.pt/chuva-no-vidro-olhares-words.jpg


Pingo
roça na vidraça.

há dias em que o vento
leva
tudo...

Menos esse cheiro de noite
nessa manhã que
se disfarça.



(Jessiely Soares)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Segundo voo da mariposa







Não era fabulosa,
a mariposa que pousou na perna da minha calça
na hora da aula.

Apesar de ter as asas
para habitar em tudo,
pelas quais Ícaro teria dado mais vida
se mais vida tivesse.

Asas de cera,
dissera,
para o Sol e para mais nada.

Penso às vezes
que a sua essência
era uma mariposa
- Uma mariposa-cinza-cigana de asa quebrada



(Jessiely Soares)

O primeiro voo da mariposa

http://www.nuaideia.com/imagem6/mariposa.10jpg.jpg


De tão pequenos gestos
numa timidez de afetos.
Esvoaçava fuligem num mar de cacos.

Como figuras num aquário
com secretas canções angelicais.

Quem pudesse veria
as marcas de sangue e vida,
de fogo e de partida ao longo do litoral

voo
primeiro e último
da mariposa que me habita
sobre as chamas do canavial.



(Jessiely Soares)

Pintura a dedo para a distância

http://images.quebarato.com.br/photos/big/1/F/16D81F_2.jpg


Porta aberta pro mar
onde só há serras.

E o Porto que lhe guarda
acaba sendo ainda mais distância que vidraça

Ainda mais maresia do que praça
Ainda mais horizonte que bom tempo.

Benditos segredos que se arrastam
dentro dos cantares oceânicos.

Nem sempre somos amantes.
Carregadores de vida é o que somos:

papel de jornal velho,
andantes por caminhos eternos,
vidas carregadas de sonhos



(Jessiely Soares)

Dos tempos de distância

http://entremeado.files.wordpress.com/2007/09/horizonte.jpg


Estendi a mão
e tudo era horizonte.

Se eu pudesse,
desfeita a tinta de mar,
retiraria com calma
e poria em aquário
as baleias.

Em sacos de plásticos
os tubarões,
as arraias,
as moréias

e as conchas.

Nas caixas de bombons,
os golfinhos e as tartarugas.

Penduraria enormes linhas imaginárias
entre o seu e o meu lugar.

Com vista panorâmica
para as paredes de mar aberto.

Assim, você cruzaria de bicicleta os nossos mundos
e eu iria lhe explicando tudo

Seriam tantas ostras,
tantas cores
e coisas.

Pequenas cores de terras quentes
por sobre a linha do Equador,
por sobre do Rio Amazonas.

Numa ponte de mar sem ondas.

Estendi a mão
e tudo era horizonte.

E os meus sonhos nem sequer borraram
as tintas escuras
dessa noite tão azul.




(Jessiely Soares)

Dos tempos chuvosos

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkbDEADXxwhLW5hTWVDEBYjVxL7vkBhhp8N9gEGcrN1FexXUPeoNpQYzBkvnh_DnexBbZgNg2obl8THpnTE13gOUsgc0yXBF6gPmefFNQVt7RZfXH39LByvAdUW-dQkWhVTdrg75d9n3SF/s400/x287844.JPG

01:36, sábado.

O tempo conjuga
medidas de vida
em ventos polares.

Arranham minha janela
em doses
tão maiores
que meus conhecidos
ares

Se eu abrir a vidraça pro mundo
ele me arrancará tudo.

Tudo que me cabe é um quadrado
muito menor que ela.

Tempestade, tempestade
passa.

A minha vida é uma fragata atracada
já não pode mais
ir ao sabor das velas.



(Jessiely Soares)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Cárcere a céu aberto

http://ixamostradepesquisa.pbworks.com/f/rio%20negro%20e%20solim%C3%B5es.jpg



Eram pequenos trechos.
Miúdos como poeira.

Não se misturavam, é fato, tal qual Negro e Solimões; corriam de mãos dadas, mas sem entrelaçar os dedos (como se entrelaçáveis dedos de rio fossem) e tinham um hábito de não gostar de calmarias.

Eram ela e seus rumores.

Uma porção de tartaruguinhas singraram a areia, seguindo o instinto foram se conhecendo oceânicas. O mar era tão valente, elas tão pequeninas, o caminho vasto do desconhecido.

Seus rumores e as tartarugas recém-nascidas.

Se alguém agora conseguisse abrir seus diários de bordo, veria que nada mais havia que uma âncora lançada ao nada e uma contagem errada de vidas, num breve espaço, no alto da página quatro.

Seguiria assim, porque o medo fazia parte da matéria da qual era nascida. Ventos de mudança assanhavam-lhe os cabelos, mas mantinha os pés fincados na rocha por causa da inexistência de algas marinhas para enlançar-lhe as pernas.

Era única e não era valente; sem nau, uma viajante sem velas, numa duna pálida.

Bravias ondas de desertos.


(Jessiely Soares)

Restos





E era tudo tão caquinho

achado
de miudezas

restante de ceia
e de vinho.

Taça
ofegante
cheia de nada

(espaço para
sonhos tintos)

E tudo era contorno de olhares
na casa de lanterna japonesa.

Há quem pinte
oceanos em telas
para afogar sutilezas.

e há
quem fique assim,
retalhos
do que já foi
mentindo poesia para a tristeza.


(Jessiely Soares)