quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ávida


Eu não sei direito...

Ela não faz curvas, nasce reta, caminhando pra frente.
Eu sigo logo atrás, vela na mão, candeeiro pedindo clemência.

Sou a que segura a sombra, a que enfeita o escuro, a que guia a cegueira temporária das manhãs

E, se há algo nesses detalhes esquecidos que eu não conheça, é necessário que se aja com paciência. Afagos de garupas de pensamentos não nascem em ordem crescente ou decrescente. O dia se atrapalha com as carícias das lembranças.

As coisas, quando inseridas em algum momento de amor, seguem sentido próprio.

Um farfalhar de sorrisos, uma história de mata fechada, uma manhã de estuário. A voz dele embaraçada a uma música Cotidiana de Chico.

A vida vai me estirando na estrada de poeira...

Lado a lado, o cajado dela me traçando rotas.

Eu, com meus pequenos temores. Ela, com os seus fios desencapados.




(Jessiely Soares)

Ingr(atos)atos


Há muitas coisas
aladas
por essa vida.

Menos esses meus cegos dias
atados aos desígnios de uma cadeira.

atos ingratos
causam paraplegia
por poesias inteiras



(Jessiely Soares)

Diariedades


Amanhece
e as coisas pequenas
vão se pondo em seus lugares

O costume tem dessas coisas.

A porcelana
reconhece a mesa
diária
e o pão recém nascido

Nada se perde nas
entrelinhas das conversas.

Nada do cerimonial da manhã é esquecido.

Mas em dias de despedida
a louça volta sozinha pra pia
e espera a matrona

Há de ter-se paciência para o banho!

Há dias em que
tudo que existe, incluindo chuva
e coisas da casa
ficam para segundo plano.


(Jessiely Soares)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Simbologia II


A noite adormece
às 18:00 em ponto
e a vida toda dá corda em seu sistema

no teto solar do mundo
vão surgindo estrelas
e lá fora

com colírio de orvalho
Girassol guarda o olhar do dia.

Eu espirro
porque tenho alergia
ao gato que entra faceiro na sala

Minha filha compõe alguma canção inabitável
e nas paredes, avermelham-se desenhos
que ela estampou

Nada mais fala,
somos apenas um segredo





(Jessiely Soares)

Simbologia







Quando a tarde cala os barulhos de chegada
após o trabalho
eu me faço matrona,jantar e cheiro do café.

Não há solidão aqui desde o Mais Encantado Ano.

Há entre as paredes escurecidas da casa
símbolos de infância,
som de voz de criança
e uma canção desordenada no piano.





Jessiely Soares