quarta-feira, 27 de maio de 2009

Selvagem

Das tuas palavras
um bendito e alegre
sumo escorre

Vale, deserto
mediterrâneo-cipreste.

A tudo, tua palavra colore

mesmo quando eu leio
em onirico estado
as coisas que nunca dissestes.


(Jessiely Soares)

terça-feira, 26 de maio de 2009

Princípio

Há noites
como essa
que de um escuro tão súbito

dá-me a impressão de que o dia
não será moldado

e que as estrelas foram
arrancadas de seu cordão flutuante

caindo no mediterrâneo.

São assim, em desenhos noturnos,
com buzinas salpicadas
que eu penso
que tudo ainda anda
sendo misteriosamente construído

em cadeias com vidros fumês
e grandes precipícios.

Tenho muito medo do futuro
em noites longíguas como essa
que persiste.

Noites assim duram uma manhã
uma tarde
e uma noite inteiras

Em que a chuva engloba tudo que inexiste.


(Jessiely Soares)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Polar


Os versos caem frios
e eu acendo a lareira
para aquecê-los.

Prefiro que derretam
e molhem meu assoalho
a se crisparem em meu chão
a se tingirem de espelho.

Não escrevo poemas
sólidos.

Eu esquento o sentimento que nasce
ate livrá-lo do gelo.

(Jessiely Soares)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Primeiro encontro





Pequenos espaços e segmentos se agrupavam na manhã.
Seu sorriso, todo incompatível com as sombrinhas de Boa Viagem, ofertava algo entre água doce e paz de pedra.

Era de um desejar tão ameno que pintou de mansidão a onda, aquela que carregou minhas sandálias, quando a maré subiu a sua ordem.

Eu fui pega desprevenida. Veja só, contra o amor não há fator de proteção solar!

Você chegou como sombra em pleno caminhar Sol.
Não sei como fez isso, mas de lá pra cá, plantou-se mais verde na minha íris.

O seu cuidado fez brotar plantação. Os girassóis nem adormecem de tanta ansiedade.
Algo no seu corpo me diz que a safra será boa esse ano.



(Jessiely Soares)

Como se Ariadne fosse


Você que desenha cada passo
no labirinto...

e que guarda com cuidado
meus panos de medo sob seu chapéu

faça-me ouvir por todos os meus dias
o seu sorriso místico.

Nada mudou
no além
da nossa janela:

Seu mundo ainda desafia distâncias
para pendurar
prateados fios de sono

na manhã da minha aquarela.

Por zelo.
Pois sabe que eu quase não durmo.

Trago comigo os destroços de quando
dei-me a idolatrar o vento, a água,
o céu e o risco.

Esse fato, também o sabe:

Você, Mohandas. Pacifista.
Eu, Guevara, de bom grado,
seria de alguma força-combate

em alguma revolta ativista

Seus dedos desenham noites.
E tantas vezes,
fizeram-se em arabesco,
para acalmar
todas as minhas cicatrizes.

Seu amanhecer tem sido minha bandeira
atrás da linha do medo,
onde me sinto mais segura.

Tenho receio da sua partida.
Receio inconfessável.

Eu, finjo que não vejo;

Mas sei da tua silenciosa batalha
num labirinto sem linha

Num lugar asfáltico,
sem deuses, minotauro,
Olimpo ou ninfas.

Atravessando o deserto sozinho,

Apenas
Para unir

- sem mais infortúnio e sem as garras do destino -

essa vida, ateniense, em pacífica calmaria,
sua,

por ocasião da eternidade,

a esta, espaçosa e barulhenta,
de revoltas televisivas e de guerra, em intensa atividade

espartana, minha.



(Jessiely Soares)

terça-feira, 12 de maio de 2009

Refaz-me


Ó, noite, não tardes, vinga!
E recai sobre minha cama,
traiçoeira

Deixa em meus lençóis
Leituras marginais

E espalha meus desejos
Como areia

Impassível,
Luz na qual me perco,
destrói toda razão
a qual me presto

Arranca
Minha língua do deserto

Faz-me recriar
A incontestável arte

Desenha
Tatuagens de Sol
Com átomos

E faz companhia
A minha ilegalidade.

Como os sonhos
indevidos
Que me bastam

Como manuscritos
Do Mar Morto
E sua fragilidade.

Não tardes
Ó, Noite,

Refaz-me.


(Jessiely Soares)