quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dentro do túnel tem luz.

(Poemas para Lanoia

porque foi ideia dele,
(idéia sem acento, isso ainda me mata !)
imagem dele, inspiradora culpa dele.

Beijos, Docinho!)




O destino da sua rota é a saída.

Forte das cinco pontas,
a sua fragata nunca me aporta,
marinheiro dos meus remansos
de claras lágrimas encolhidas.

No seus cantos
ruflar de velas brancas,
íris lançando âncoras

e uma sagrada noite de partida.







_________________________***



Segredos rumam ao seu lado
e eu
desenho o seu retrato

em tudo que eu puder.

Como se você ainda aqui estivesse:

lembranças repartidas ao fundo
segredos de amores

Lágrimas como se fossem
pedaços de alguma estrela silvestre.



_________________________***



O símbolo
da circuferência
dos teus olhos

cânticos de penitência
altares de segredos mortos

de sangue e de despedida.

Povoados de silêncio.




_________________________***




(Jessiely Soares)

Preocupações

                              http://www.casadeicaro.com.br/images/Notas_musicais.jpg


Divisas
subterfúgios
há dias
em que tudo acontece

Manhãs como essa
em que tudo se aglomera.
Tiro as sandálias,
jogo tudo na música.

Vai cantando a casa toda,

Dont worry,
Dont worry,
Be happy.



(Jessiely Soares)

Memórias

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(Despotam discursos noturnos
dentro dos meus sonhos)

O mundo morador da pedra.
nasce da vida silenciosa,
Rosa, Gueixa,
contendo em si
os cânticos da noite.

Dos ruídos,
entre as breves manhãs de fogueira,
mares de mansidão

singelos segredos de areia.




(Jessiely Soares)

Aquário

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Eu retorno dos sonhos
porque é sempre necessário.

mas eu deixo os desejos
águas-vivas
na singela claridade do aquário

Nesse santuário vivo
onde repouso
as minhas grandes navegações

Há dias em que os meus
ondulares rasos
tem mais segredos
que os profundos labirintos,

e mais revolta que todos os tufões.




(Jessiely Soares)

secretos

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Despercebido
seu sonho não sabe
o caminho da sua vida-chama.

Segredos de armistício.
de um mundo que só gira
porque seu olhar secreto

soltas fagulhas emana.

Onde anda a sua mente
eu não sei,
mas o teu sorriso,
esse louco guerrilheiro dos meus vícios
anda completando meus espaços:
confusão de pequenos estilhaços
espelhos de uma uma lua soberana.

Há muito já não sei andar sozinha,
unidas mãos, soltas feridas dessa sina.
sua vida pela minha vida anda.



(Jessiely Soares)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Annie


De que matéria
você é feita
para ser
metade calmaria
e a outra corredeira?

Qual o anjo
tão bendito
esculpiu
o seu sorriso
e suas
graciosas bochechas?

Menina
que se coube inteira
dentro da minha vida.

Menina,
musa dos meus poemas
Misto de perfume
brinquedos e fantasia.

De que manhã
foram os seus olhos,
de rumos ignotos,
criados e pintados
para serem belos?

De que noite
foram feitos seus
sonhos?
De quais constelações,
princesas e castelos?

Menina,
que foi o meu útero
que é meu arbítrio,
que é meu desejo.

Menina,
que adormece a casa
quando adormece
sem me dar um beijo.

Meu contato direto com o infinito...
De que lugar
tão vasto e bonito
você saiu voando
para pousar em mim?




(Jessiely Soares)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sintética II

*



Ruídos de papel pela madrugada
ou são traças pela noite
ou poesia pela casa.



*

sintética

*




é noite na gaveta
e a poesia está desfeita
no papel que dorme em paz.



(Jessiely Soares)

*

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Clima

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Pingo
roça na vidraça.

há dias em que o vento
leva
tudo...

Menos esse cheiro de noite
nessa manhã que
se disfarça.



(Jessiely Soares)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Segundo voo da mariposa







Não era fabulosa,
a mariposa que pousou na perna da minha calça
na hora da aula.

Apesar de ter as asas
para habitar em tudo,
pelas quais Ícaro teria dado mais vida
se mais vida tivesse.

Asas de cera,
dissera,
para o Sol e para mais nada.

Penso às vezes
que a sua essência
era uma mariposa
- Uma mariposa-cinza-cigana de asa quebrada



(Jessiely Soares)

O primeiro voo da mariposa

http://www.nuaideia.com/imagem6/mariposa.10jpg.jpg


De tão pequenos gestos
numa timidez de afetos.
Esvoaçava fuligem num mar de cacos.

Como figuras num aquário
com secretas canções angelicais.

Quem pudesse veria
as marcas de sangue e vida,
de fogo e de partida ao longo do litoral

voo
primeiro e último
da mariposa que me habita
sobre as chamas do canavial.



(Jessiely Soares)

Pintura a dedo para a distância

http://images.quebarato.com.br/photos/big/1/F/16D81F_2.jpg


Porta aberta pro mar
onde só há serras.

E o Porto que lhe guarda
acaba sendo ainda mais distância que vidraça

Ainda mais maresia do que praça
Ainda mais horizonte que bom tempo.

Benditos segredos que se arrastam
dentro dos cantares oceânicos.

Nem sempre somos amantes.
Carregadores de vida é o que somos:

papel de jornal velho,
andantes por caminhos eternos,
vidas carregadas de sonhos



(Jessiely Soares)

Dos tempos de distância

http://entremeado.files.wordpress.com/2007/09/horizonte.jpg


Estendi a mão
e tudo era horizonte.

Se eu pudesse,
desfeita a tinta de mar,
retiraria com calma
e poria em aquário
as baleias.

Em sacos de plásticos
os tubarões,
as arraias,
as moréias

e as conchas.

Nas caixas de bombons,
os golfinhos e as tartarugas.

Penduraria enormes linhas imaginárias
entre o seu e o meu lugar.

Com vista panorâmica
para as paredes de mar aberto.

Assim, você cruzaria de bicicleta os nossos mundos
e eu iria lhe explicando tudo

Seriam tantas ostras,
tantas cores
e coisas.

Pequenas cores de terras quentes
por sobre a linha do Equador,
por sobre do Rio Amazonas.

Numa ponte de mar sem ondas.

Estendi a mão
e tudo era horizonte.

E os meus sonhos nem sequer borraram
as tintas escuras
dessa noite tão azul.




(Jessiely Soares)

Dos tempos chuvosos

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkbDEADXxwhLW5hTWVDEBYjVxL7vkBhhp8N9gEGcrN1FexXUPeoNpQYzBkvnh_DnexBbZgNg2obl8THpnTE13gOUsgc0yXBF6gPmefFNQVt7RZfXH39LByvAdUW-dQkWhVTdrg75d9n3SF/s400/x287844.JPG

01:36, sábado.

O tempo conjuga
medidas de vida
em ventos polares.

Arranham minha janela
em doses
tão maiores
que meus conhecidos
ares

Se eu abrir a vidraça pro mundo
ele me arrancará tudo.

Tudo que me cabe é um quadrado
muito menor que ela.

Tempestade, tempestade
passa.

A minha vida é uma fragata atracada
já não pode mais
ir ao sabor das velas.



(Jessiely Soares)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Cárcere a céu aberto

http://ixamostradepesquisa.pbworks.com/f/rio%20negro%20e%20solim%C3%B5es.jpg



Eram pequenos trechos.
Miúdos como poeira.

Não se misturavam, é fato, tal qual Negro e Solimões; corriam de mãos dadas, mas sem entrelaçar os dedos (como se entrelaçáveis dedos de rio fossem) e tinham um hábito de não gostar de calmarias.

Eram ela e seus rumores.

Uma porção de tartaruguinhas singraram a areia, seguindo o instinto foram se conhecendo oceânicas. O mar era tão valente, elas tão pequeninas, o caminho vasto do desconhecido.

Seus rumores e as tartarugas recém-nascidas.

Se alguém agora conseguisse abrir seus diários de bordo, veria que nada mais havia que uma âncora lançada ao nada e uma contagem errada de vidas, num breve espaço, no alto da página quatro.

Seguiria assim, porque o medo fazia parte da matéria da qual era nascida. Ventos de mudança assanhavam-lhe os cabelos, mas mantinha os pés fincados na rocha por causa da inexistência de algas marinhas para enlançar-lhe as pernas.

Era única e não era valente; sem nau, uma viajante sem velas, numa duna pálida.

Bravias ondas de desertos.


(Jessiely Soares)

Restos





E era tudo tão caquinho

achado
de miudezas

restante de ceia
e de vinho.

Taça
ofegante
cheia de nada

(espaço para
sonhos tintos)

E tudo era contorno de olhares
na casa de lanterna japonesa.

Há quem pinte
oceanos em telas
para afogar sutilezas.

e há
quem fique assim,
retalhos
do que já foi
mentindo poesia para a tristeza.


(Jessiely Soares)