segunda-feira, 30 de maio de 2011

Verdades

.                                    

Nunca escrevo no auge da dor.
Sou um rio sem leito,
primeiro me espalho,
destruo, desabrigo
depois eu cato os cacos

tal qual um poema rico,
composto por pedras polidas,
perdas e fracassos.




(Jessiely Soares)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Partido


    

*


De tanto orvalho
perdeu o medo
e pesou.

Pendeu
abriu as asas
que nem
lembrava que tinha

Voou

Era tardinha

Depois disso
não se sabe mais.

Só do arrebol
que se tem notícias

Ninguém nem lembra
como ele planava.

Coração
quando parte para o mundo
não volta mais pra casa.


(Jessiely Soares)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Novela


As palavras na madrugada
são iguais aos olhos dele.

Jogadas pelo chão
largadas pela parede.

Só que a elas posso agulhar
e com ternura pendurar,
                                                         uma                                          
                                                                                                 uma,
                                                                               a
no varal do jardim.

Com ele não,
a ele foi dado o direito
de esconder                                seu              co   ra
                                                                         çã
                                                                          o                                                                                              do tiro certeiro

do meu poema-festim.





(Jessiely Soares)

sábado, 21 de maio de 2011

Poema para Aquele que passou



... e eu que sei de poucas coisas
descubro as que são dolorosas

Já sei que é por sua causa
a educada dor da rosa
e que por seu desencanto
a lua nasceu nervosa,
que é por seu coração
- que é algo entre fibra e rocha -
que as coisas todas na terra
- entre a saudade e a quimera -
que tudo, tudo, tudo
se espraia e se desintegra

ou talvez seja porque
amei tanto você
que já não vejo saída.

Talvez seja culpa só sua
ou
quem sabe, da vida.




(Jessiely Soares)



Achei a imagem aqui: http://jaquellinee.blogspot.com/2010/08/esquecer-o-passado.html

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Faroeste




Tanto guerreou

Abriu estrada, ergueu muros
rompeu noites no mais infiel escuro
para
depois
tão covarde, sem ser morto ou ferido

entregar o meu ouro e o seu,
ao bandido.





(Jessiely Soares)




terça-feira, 17 de maio de 2011

Do desgosto

.



Antes da nevasca, eu costumava deitar em seu colo.
Lembra ainda como era a sensação?

Valsávamos então por todas as estações:
Curado, Tejipió, Afogados...

Apostando com Newton.

Hoje eu pego um ônibus lotado, contando os minutos que faltam
para chegar a Universidade
para sair da Universidade
para deitar, trabalhar, voltar ao ônibus lotado.

Não quero parar.
Não quero nem pensar em parar.

Espero que depois da última dança, quando essas estações passarem por você,
- mesmo que seja a de Joana Bezerra,
- mesmo que não esteja sóbrio,
você ainda possa me ver, sentada num daqueles bancos,
contando as
                             horas,
  as                         horas,           as
                              horas,

lhe esperando aproximar-se e me dizer,
com aquele sorriso de menino, com aquele cabelo assanhado:



Venha,

vamos pra casa.






(Jessiely Soares)

Eólica

Eu anuncio
e lamento
que minhas palavras estão escondidas.

Poesia por poesia,
eu vou ficar com a do vento.




Jessiely Soares

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Anniely


Duas floreiras,
a janela anda sorrindo
é tudo filosofia.


Né, fia?









(Jessiely Soares)