terça-feira, 16 de junho de 2009

Annie



Com tantas cores em giz
ela desenha um mundo
entreaberto

uns poucos pontos de luz
a serem pescados

uns rápidos vagalumes,
um cavalinho que trota...

não percebeu no entanto
que por uma onda de pensamentos
escapariam
todos os desenhos

o céu
tão bem pintado

escapou pelo rasgo provocado
no rasante entardecer da gaivota.


(Jessiely Soares)

Compaixão




Nossos caminhos
deitados e esquecidos na sendas

Não fazem mais tanto peso na memória.

Não correm dos ventos,
Não adormecem 
de forma aleatória

Não há mais espaços
para acalentar as nossas feridas.

Tudo anda velho e corroído
eu ando querendo ser devorada por traças,
perfurada por metais envelhecidos.

Ou, quem sabe, dopada por um olhar envenenado...

E se eu não te falo dessas vontades subliminares,
não repare,

Eu não gosto quando você me devota sua pena.
Prefiro ser a musa para o teu verso intacto. 


(Jessiely Soares)

sábado, 6 de junho de 2009

Seis de Junho de Dois Mil e Nove.



Pelo menos, 35 mães choram seus 35 filhos.
35 mães choram seus 35 filhos.
35 mães choram.

35 mães choram sangue, pelas chamas que mataram seus 35 filhos.


                                                                                         México,

por ti
e por teus infantes mortos

espero que hoje
não haja
nenhum
poema no mundo



(Jessiely Soares)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Distração



Adentro a sala
de espelhos;

parede atrás de parede

e apenas o teu reflexo.

Não há mais nada,
sequer a geada,
sequer o inverno,

Só uma longa sombra
que desce as paredes.

e a amarga certeza

De que, espelho atrás de espelho,
tu segues nos mesmos trilhos da minha vida...

Mas no teu caminho inverso.


(Jessiely Soares)


Imagem de: Ana Cláudia