terça-feira, 26 de agosto de 2008

Mundo de lá


*


A hora em que mais doeu
foi quando você acenou

E tudo o mais fez-se neblina.

Turva,
Mil graus abaixo de zero.

E quando mil pensamentos
voltaram descarrilados
a mesma estação de metrô

De tantas
chegadas e partidas.

Eu trocaria a imortalidade
- se eu assim a tivesse -
por mil vezes de teu sono profundo

Por teus sonhos difusos
sem as despedidas de inverno

Sem esse medo da vida.



(Jessiely Soares)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Do gesto mais simples



*

Selvas de medo e tristeza
Em um trem na madrugada a dentro
Na época em que tudo que era vivo
corria perigo.

Vagávamos,
Noite em claro

No último vagão disponível.

Mas tua mão se entrelaçava na minha
e tudo fazia sentido


(Jessiely Soares)

domingo, 10 de agosto de 2008

Vazio


Esse adeus estampado
em uma página branca

dentro dos sonhos seus,

Não precisa de tele-jornais.
Não precisa de sombras,
derivações,
sintomas,
catástrofes,
Museus...

Guerra ou paz.

Só precisa um olhar mudo,
uma mão que escolhe

tudo,

até restar apenas
uma foto em sépia
de réplicas,
de promessas,
de abismos,
dissoluções

dos meus antigos impossíveis...

E nada mais.



(Jessiely Soares)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Paleontologia



*

Se decidires revelar
esses restos que jazem
dentro de teus olhos
de oceanos extintos

Não hesite.

Há tantos anos
escavo mundos
em busca dos meus pedaços
perdidos em tua Íris,

Fósseis, incrustados, nesse teu azul tão triste.




(Jessiely Soares)

Praga



A todos que nesse mundo
dormem o sono dos justos,
sonhando com as dívidas

eu desejo muitos anos de passado.

E que suas retinas guardem
o lugar mais insano,
e o sonho mais assombrado

Quanto a mim,
que nesse frio de medo
brinco com tua imagem

quero amanhecer com a lua.

Cantando os terríveis sons
de brisas que morreram na noite
da nossa separação covarde.



(Jessiely)

Jardim de Inverno




*

Flores pálidas
pendidas, transparentes

Uma luz branca
esvaindo-se nas vidraças

Canto cortante
cristais mortos de floresta.

Pensar que até ontem
tudo era calor...

Resquícios de aromas
paisagens brancas, desérticas...

Pensar em tudo que eu morri
por tanto amor

O teu medo, inconsequente,
assassinou a primavera.


(Jessiely)

Círculo Polar


Se ao menos
o que quebrasse na distância
fosse o ar
a dor
ou mesmo a letra

eu podia,
arriscando uma centelha
prender uns versos e uns prantos

Mas o que quebra
é mais do que eu posso,

é mais que qualquer coisa
que eu queira,

O que quebra é esse amor
que range os ossos
e que tenta apagar
fatalmente
essa fogueira.


(Jessiely)

Contrastes




Eu tenho, nas horas vagas
criado constelações com teu perfume
e em teu nome, feito explosões
em minha galáxia...

Mas no dia-a-dia nublado
há certos momentos
em que tua luz não me acha.

(Jessiely Soares)

Noites e Pedras





Por essas ruas, por essas luzes amarelas...
Fui deixando pequenos contrastes
- amor e pedra -
por passos não contados no caminho

Medindo
sob estrela e a aquarela
sob o canto do bêbado e a espera
o rubro alvorecer no céu antigo

Conjuguei em versos tais,
- de universo e outros vinhos -
a certeza da entrega
em cálidas noites
de serenos antigos demais...

Os passos não contados
que ficaram de tantas vidas
já não cabem...
nem nessas luzes - segredosas de passados -
nem nessas pedras de rua
de madrugadas imortais.


(Jessiely Soares)



*Foto do Recife Antigo:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=518469

Prometeu Sem Coração ( André Espínola)





Com pés e mãos acorrentadas
Às rochas montanhosas,
De alguma região geográfica esquecida do globo,
- talvez inexistente,
ou existente apenas em mim mesmo -
Vejo o passar da noite,
O amanhecer e o crepúsculo do dia.

- a lua é sempre
a melhor companhia.
passo menos tempo com ela,
já o sol, cega,
demora, queima
e destrói minha harmonia -

Não roubei a faísca do fogo dos deuses,
Nem mereço ser prisioneiro de um monte
Para sofrer diante de tal suplício,
Ficar inerte, preso ao chão,
Vendo uma águia vir do horizonte,
Pousar em meu peito, rasgar-me com seu bico,
E vê-la, saciada, devorar meu coração.

Antes fosse um fígado!
Pelo menos teria ainda um coração...


(Autor: André Espínola)




http://andreespinola.blogspot.com




* Por ser tão linda, tive que furtá-la dele.

domingo, 3 de agosto de 2008

Vinho tinto em copo de barro (Anderson H e Jessy)



*

Sol,

beira de lábio encarnado e seco,
onde meus cacos pela casa, onde?

no veneno
que berra,

em pleno átrio,

nomes de artéria,
sonhos de ventrículo
e porres coração, coração, coração...?!

célula suicida,

pára, astuta,

e soca o lixo refletido na vidraça!

Implode o silêncio
Que do nada me afasta
E acende a noite, noite comum, noite sem graça...




*




(Jessiely e Anderson H)

Grand Ópera verídica.





*


Se a mezzo-soprano
te soprasse uma promessa
descuidada e apressada:

Vivaldi nos auto-falantes...
Mozart, rock. tecno-funk...
se a mezzo-soprano
sussurrasse:
...Inquieto esse desejo!

e te desse esse beijo
transformasse tesão
em fato ,
em ato
num canto qualquer...
será que te esqueceria?
será que seria mais fácil?

Fetiche,
Lapso,
Regente,
Saxofone e harmonia

o coro canta
cuidado!
e ela sussurra:
que se dane!

se a mezzo-soprano
descuidada e apressada:
tropeçasse no ar

vivaldi soando
funk, punk
e o tombo
sonoro
retumbante

Braços abertos
Como asas, planícies,
Balé, vida e a voz ressonante que
Insiste e
Incide...

Se ela sussurrasse:
e te desse esse beijo
transformasse tesão
em fato, em ato.
num canto qualquer
mozart,
rock... electronic music
colapso.
Inquieto esse desejo!

o coro canta
cuidado!
e ela sussurra:
que se dane!

Na noite mal cuidada
de vodka,
vivaldi, lago dos cisnes,
nona sinfonia

Ele, moreno,
Contratenor, Dj, hinduísta.

Com ela, a mezzo-soprano
num drama musical;
Grand Ópera verídica
de uma vida insone.

o coro canta
cuidado!
e ela sussurra:
que se dane!

*


(Rosa Cardoso e Jessiely Soares)

Constatação


a nós,

de sonhos imaturos,
foi concedido tão pouco.

Notaste?

um medo
uma janela pro fosso
uma cama, um encosto

e uma distância covarde.


(Jessiely Soares)