domingo, 2 de outubro de 2011

Prece


I

Que ele não seja
sacro.

Mas apenas fiel,
alimentando os sonhos antigos

E que ainda me reserve um tempo
Que ainda me estenda às mãos
e conte estrelas comigo.

Para que o fim do dia
Ainda pareça
manhã

II

Amanhã.

Que o amor ainda seja capaz
de habitar as frestas da janela
e de entoar mantras ao silêncio

para as cigarras, para os rios
para as singelezas das nuvens

até quando a noite alta aparecer.

III

Anoitecendo

Para que eu consiga
ser esperançosa
Mesmo quando a porta
entreaberta
apenas mostrar os raios de escuridão

Que vem de dentro.

E que mesmo que aqui fora
a última luz também esteja esmaecendo.

IV

Que este amor me veja.
Além das aparências, das placas de vidro fosco
[que separam a certeza
dos medos]
Além da grama alta dos meus olhos
E da armadura.

Que este amor me veja.

V

E que seja antes da última vez

(Jessiely Soares)