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O rio sussurra
Durante a passagem
Silêncios inabitáveis
Só aquela flor
Desbotada,
embalde
Conhece os mistérios
Que
vão, vão.
Em sua eterna
susceptibilidade
As águas mansinhas
E turvas
Oriundas de tantas
fúrias
Não conversam
Com o mundo
Em meio à escuridão.
Apenas aquele resquício de vida
Minúscula e descolorida
Contém os amores
E as esperanças perdidas
Que o rio sussurrou
- Dos trigais a deitar
Com a força do vento
Dos moinhos
Dos filhos
Dos mananciais
E o choro de Deus
Que serenou tantos cais -
Descalça
naquelas
águas
Nada ouço: o segredo emudeceu.
Que seja!
O que passa
Guarda um silêncio
fadado àquela
flor que o vento enleia e que não saberá
nada além que seu próprio passado.
Eu
Fico às margens
Sem compreender
O ciciar
Do rio
Mas posso esperar
Meu futuro
De olhos fechados.
(Jessiely)