
Mas que névoa
que faz mudar a noite quente
quando ela se converte
em lua morta...
Enquanto eu, atirada, numa súbita e remota
revoada de emoções intempestivas
deixei sob o verso,
o suor e a camisa
de quem agora já cruzou a minha porta.
Mas que lua
que se assenta em minhas serras!
Única, como a cúpula Sistina,
como revoltas, como rubras e finas crinas
dos cavalos que pisaram o meu vento
galoparam os sentimentos em seus cascos
e meus pecados escandalosos
e capitais.
Mas, que nada, que vazio,
que noite!
Quando a brisa embriagada de dissabores
vem trazer-me a janela teu retrato.
Que lanceiro, que tristeza, que diabo...
Enterra meus desejos
numa noite morna e clara.
Do cheiro e das lembranças do futuro que'inda não veio
do medo que eu tenho, desse escuro que receio
reapareces como prece
no meio da noite morta
Deixando a brisa rouca, roçando a minha boca
Me engravidando de saudades
com as tuas mãos eólicas.
(Jessiely Soares)